É
esta a pergunta que Pilatos fez diante de Jesus no momento em que O condenava à
morte. Ainda hoje, e cada vez com mais pertinência, fazemos nós aquela pergunta,
tantas vezes. E com extrema pertinência: é que a Mentira cobriu as nossas vidas
como um espesso manto…
16/7/96
– 9:15
Na natureza humana não há amor que não seja
sensual! – isto me acaba de dizer o Mestre neste momento. E são assombrosas as
implicações que estou vendo desta afirmação do Mestre dos mestres! Ao vivificar
o barro com o Seu próprio Espírito, Deus assumiu também o corpo do homem no Seu
Ser. E nesse Dia Deus amou o barro como Seu próprio Corpo. Ao pecar, foi como
se o homem tivesse amputado Deus de uma parte do Seu Ser. Mas ouvi de repente
também agora: “Eu basto-Me a Mim mesmo! Não Me fazeis falta nenhuma!” E
parecia-me a Voz portentosa de Yahveh atroando pela Criação inteira.
– Vem então, Jesus, e explica-me isto que
parece uma contradição insolúvel.
– Repete, sintetizados, os termos da
contradição.
– Do Ser de Deus faz parte a Criação – A
Criação não faz falta nenhuma a Deus.
– Consideradas isoladamente, algumas das
duas afirmações é mentira?
– Não.
– Não havendo mentira em nenhuma delas, são
ambas verdade?
– São.
– O que é a verdade?
– Empolga-me esta interrogação que fizeste a
todos os séculos perante Pilatos, numa altura em que parecias “um verme e não
um homem”. Que se terá passado no Teu espírito nessa altura, Pantocrator?
– Que se passou, Salomão, no Meu espírito?
– E eu posso saber, Companheiro?
– Podes, se Eu to revelar.
– Então vá, Jesus: eu dou-Te palavras, eu
dou-Te a mão, eu dou-Te a caneta…
– Pega então em tudo isso e diz o que se
passou dentro de Mim.
– Os homens estavam esmagando nessa altura a
Verdade… Mas agora advirto, Jesus: não foste Tu; foi Pilatos que fez aquela
pergunta! Fui verificar. Está em Jo 18, 38. Porque me deixaste escrever assim?
– Disseste bem: fui Eu que fiz aquela
pergunta.
– Ahn?
– Pilatos é também ali barro Meu vivificado
pelo Meu Espírito falando.
– Mas Pilatos estava-Te julgando. Ele era
ali o juiz.
– E nele estava Eu assumindo também todos
aqueles que no momento de julgar se interrogam sobre o que acabam de fazer.
– Então sei agora melhor o que se estava
passando dentro de Ti. Tu estavas naquele momento sentindo um profundo amor por
aquele juiz. Uma quase ternura, como a que sentiste pelo bom ladrão, que também
Te considerou inocente, como Pilatos!
– Sim. Vamos então agora resolver aquela
contradição?
– Vamos, Jesus. Diz.
– Não está já resolvida?
– Vislumbrei só um instante a Tua Luz, mas
ver, não vi ainda…
– Não sabes porque te conduzi até à Minha
Paixão?
– Ah! A Tua Paixão é a prova de que não
precisas de nós: o sofrimento é um absurdo, em Deus; nenhuma necessidade Te
poderia obrigar a sofrer.
– E está também no Meu Sofrimento a prova de
que a Criação faz parte do Ser de Deus?
– Está: só o próprio corpo se ama assim como
Tu amaste na Tua Paixão.
Jesus calou-Se e olha-me fixamente com
imensa ternura. Apetece-me entrar-Lhe pelo Coração dentro, desfazer-me n’Ele. E
este “apetite” que eu tenho, que diríamos ser só espiritual, não é: mexe-me com
o ser todo, atinge-me todos os nervos, desde as entranhas até à flor da pele. É
um apetite verdadeiramente sensual. Suave como a Ternura. Sensual como a
Ternura. E é este mesmo apetite sensual que me faz avançar sempre até onde vai
o meu Senhor. Até à Cruz. Até à podridão. Até aos Infernos. Também não há dor
que não seja sensual!
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