Não conhecemos outra vida senão esta, regada de sofrimento. Mas é tão
contra a nossa natureza a Dor, que volta e meia damos por nós a perguntar para
as abóbadas do nosso Silêncio interior que estranha tragédia terá acontecido lá
nas Origens…
11/7/96
– 10:02
Irresistível, o dedo encaminhou-se para um
ponto de uma página do profeta Vassula. Está lá escrito assim: “Tudo se torna
magnífico quando vem de Ti” (8/11/95).
E não podia qualquer palavra da Escritura
vir mais directamente ao meu encontro do que esta! Em nenhum Mistério o Mestre
me tem mantido tanto tempo amarrado como a este, o da sensualidade, o Mistério
do Prazer, como Ele lhe chama. E esta noite voltou a pedir-me: “Não fujas das
Minhas Mãos”! A sensação é a de estarmos a atravessar, Ele e eu, o mais
perigoso território deste Deserto. Ele vai-me dizendo que não tenha medo e ao
dizer isto faz-Se todo íman agarrando-me a Si. Mas é uma loucura o que me está
fazendo e eu sempre pensei que loucuras destas vinham de Satanás. Era este,
exactamente, o céu de Satanás. E é
este, de facto: no prazer físico concentrou Lúcifer toda a felicidade do homem.
Mas o Prazer físico é justamente a felicidade específica do homem, já que os anjos não têm corpo. Uma estonteante
felicidade, porque o corpo ficou todo túrgido da própria Seiva do Espírito de
Deus, a própria Seiva vinda do Coração do Criador em golfadas tensas
percorrendo todas as veias e artérias e vasos capilares do Cosmos. O Prazer
físico é, desde que Jesus desceu ao mais fundo dos Infernos da nossa dor e da nossa
podridão, Felicidade de Deus! Tem a
intensidade da Vida Eterna e a dimensão do próprio Deus!
Clitóris erecto, seios túrgidos, bicos dos
seios empinados, tensos, corpo nu roçando-se na folhagem em diálogo sensual com
todo o verde, andava assim Eva no Éden quando dela se aproximou a Serpente. Eva
era só felicidade! Era só bem! Lúcifer teve tanta raiva desta felicidade, que
jurou servir-se dela para desamarrar o homem do Criador. E disse a Eva: Porque
hás-de viver eternamente uma felicidade dada? Porque não hás-de ser tu a dona
da tua própria felicidade? Eva ficou empolgada com a ideia e apresentou-a a
Adão.
O Coração de Deus rebentava de tensão: podia
ser ainda que Adão fizesse Eva reconsiderar…
Mas Deus viu Adão comer também o Fruto…
E o Seu Coração desfez-Se em lágrimas!
Deus não pôde fazer nada! Só chorava. O
Verbo Eterno ficou mudo. O Espírito recolheu ao Coração de Deus-Pai e foi aí
que o Universo todo tremeu, ameaçando desfazer-se. Não se desfez por causa das
Lágrimas de Deus que o banhavam, se lhe afundaram nas entranhas e uma parte
ficou em suspensão sobre a folhagem do Paraíso, como gotas de orvalho. Mas
ficou ferido, o Universo inteiro, naquele Dia da Grande Tragédia, porque
perdera o seu jardineiro e guardião. De facto o homem, que fora criado à exacta
Imagem do Primogénito e Rei de toda a criatura, havia-Lhe sido dado a Ele, o
Rei, como Seu íntimo, para que em Seu Nome cultivasse e guardasse intacto o
imenso Jardim de Delícias de que gozaria em toda a sua capacidade de gozar, no
total prazer de cada momento. Mas agora o homem era um ladrão acossado,
escondendo o produto do seu roubo.
Foi nesta altura que Deus, enxugadas já as
Lágrimas, foi procurar o homem no seu buraco, transido de medo. E foi aí que
Deus criou no homem, conforme já o Mestre nos ensinou, a Consciência, sempre na
esperança de que um dia o homem reconsiderasse e livremente Lhe regressasse ao
Jardim e à Felicidade que perdera. Entretanto deixou que o homem, sempre com
inteira liberdade, pudesse ter a experiência exacta daquilo que escolheu. E foi
o oceano de dor que conhecemos, uma dor que, como uma hidra, lhe vai devorando
sucessivamente toda a felicidade que consegue gozar e que não se renova nem
aumenta, porque justamente se desligou da Fonte, ao ser roubada.
Mas as Lágrimas de Deus são inexoráveis e o
Rei desceu à Cruz. Agora, tudo se torna magnífico, quando vem d’Ele!
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