Fomos formados no ventre das nossas mães a partir de um misterioso poder
interior que nos aprontou em nove meses. Depois, progressiva mas muito rapidamente,
o mundo exterior, onde sobressai, triunfante, a nossa Obra a que aqui se chama
a Cidade, começou a sugar toda a nossa atenção, bloqueando aquela nossa Fonte
Interior. O resultado temo-lo à vista…
11/7/96 – 4:29
– Não sei por onde começar… Fala Tu, Jesus.
Começa.
– Como estávamos dizendo, é louco o Meu Amor
por Ti. Não fujas das Minhas Mãos.
– É sempre isso que nos estás dizendo – que
nos amas loucamente, não é?
– Ao vosso ouvido, aos vossos olhos, pelos
vossos caminhos Eu murmuro, Eu proclamo, eu grito que desfaleço de amor por
vós. Como podeis não Me ouvir?
– Não é fácil, Mestre. Tu sabes bem que na
correria e no estrondo da nossa Cidade é muito difícil ouvir-Te.
– Como, se Eu estou dentro de vós?
– E nós lá ouvimos o que está dentro de nós?
Com esta multidão de vozes atropelando-se para entrar no nosso ouvido, com os
milhões de imagens que continuamente nos põem diante dos olhos, com todas as
sensações com que atafulham o nosso silêncio, como queres Tu que reparemos em
Ti?
– Eu venho de dentro!…
– Já disseste, Mestre, mas toda a nossa
atenção está voltada para fora.
– Eu venho de dentro! A Minha direcção é
contrária à do mundo.
– Pois vens, meu pobre Senhor, vens de
dentro, já disseste, mas quem pode ouvir os Teus passos, se todos os dias fazem
espectáculos cá fora, disputando a nossa atenção cada segundo?
– Eu estou aqui! Aqui dentro! Psst!
– Ouve-me também Tu, por uma vez, querido
Deus! Assim com esse cuidadinho, ninguém se vai voltar para Ti, não vês? Tens
que arranjar um processo qualquer de chamar a atenção… Berra também!
– Como? Ah, não, não dá resultado! Andei por
toda a Cidade, toquei nas costas das pessoas, nem se voltaram; pus-Me à frente
delas, empurraram-Me para passar; tentei falar, olharam-Me como quem tem
alergia e mandaram-Me calar; gritei e bateram-Me! Não, não dá resultado. Agora
vim aqui para este vazio que tendes dentro… É a única hipótese…
– Tens tido alguns resultados?
– Os poucos que Me ouviram, foi daqui que os
chamei. Olha o teu caso: não foi de dentro que ouviste a Minha Voz?
– Ah, pois foi! E lembro-me de que foi tão
grande a surpresa, tão feliz fiquei, que tudo lá fora me começou a parecer lixo
e, admirado de que as pessoas ali andassem ferradas, comecei a ter muita pena
delas.
– Que te seduziu tanto, aqui dentro?
– Não sei como foi…. Vi o Teu Coração
aberto, espreitei, deixaste-me entrar e…e até agora não tive um momento de
descanso.
– Porquê?
– Porque quero ver o Paraíso todo.
– Mas não estás continuamente a dizer-Me que
sofres muito, que andas num Deserto?
– Pois ando, pois é, pois sofro.
– Não queres explicar porquê?
– Porque queria morar já lá, no Paraíso! E
não posso!
– Porquê?
– Porque não morri ainda. Vês? Vês o ardor
que está no meu coração?
– O que é que arde, no teu coração?
– O desejo de vir definitivamente para aqui,
para o Paraíso.
– É o desejo de morrer?
– Não propriamente. É só de viver
definitivamente aqui. Mas não queria morrer enquanto não pusesse as pessoas
todas do mundo inteiro a olhar para Ti, a ouvir-Te. Enquanto não as visse
todas, de olhos arregalados, seduzidas por Ti. Por isso sofro. O Deserto é a
Cidade, donde eu não quero partir. Se Tu soubesses a vontade que tenho de a ver
deserta de homens e destruída! E depois da poeira assentar, as chuvas caindo
sobre a ruína! Muita chuva! Tempestades, furacões, tornados, para desfazerem
por completo a ruína e fazerem infiltrar todo o barro outra vez no seio da
terra. Ah, eu acho que desmaiava de alegria na primeira Primavera! Desculpa,
Jesus!
– Continua.
– Já acabei. Não quero a Cidade, prontos.
Não serve para coisíssima nenhuma. A solução é tirar de lá todos os seres vivos
e arrasá-la! Não achas?
– Acho. Mas admites que consigamos isso até
à hora da tua morte?
– A mim bastava-me que todos tivessem
espreitado para dentro do Teu Coração: nesse Dia eu sei que a Cidade estará
irremediavelmente perdida!
– Meu querido amigo! Meu bom sonhador!
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