A mensagem que se segue é uma das grandes
lições do nosso Mestre, que só na Solidão e no Silêncio do Deserto se podem
entender.
30/1/95
– 5:14
Pareceu-me ouvir: “Génesis” e, de olhos fechados, abri no início
do Livro. Os olhos caíram sobre
Gn 34,
que está encimado pelo título “Dina é ultrajada”. Mas, a
propósito do “pareceu-me” inicial, devo dizer que me não faz agora muita
diferença a maior ou menor intensidade do impulso interior. Agora, mesmo quando
só parece, é! Acredito na Presença do
meu Senhor sempre que faço ou tenho intenção
de realizar qualquer obra boa, como seja procurar a Sua Vontade na Escritura.
Esta Presença actua e é eficaz até mesmo quando só parece. E quando se verifica que se errou? –perguntará alguém muito
a propósito. E eu respondo: o que é o erro? Quem decide sobre o bem ou sobre o
mal, o certo ou o errado? Nós? Como sabemos nós da justeza dos nossos critérios
e dos nossos juízos?
É este um novo dado que o Senhor me está
agora revelando: o que é erro aos olhos dos homens, é sempre Graça aos olhos de Deus, é sempre Dom Seu quando é a Sua
Vontade que sinceramente estamos buscando e procurando realizar. Nunca há erro
quando, mesmo apetrechados com as nossas deficiências todas, sincera e
humildemente agimos no desejo de servir o Senhor!
Mas está-me no espírito, neste momento, uma
objecção. E a Inquisição, por exemplo, sempre apontada como o maior pecado da
Igreja? Os homens que torturavam e matavam com inaudita crueldade faziam-no,
alguns deles talvez até muito sinceramente, julgando ser essa a Vontade de
Deus! O que vou dizer parece heresia, mas sinto-o como verdadeiro, vindo de
Deus, portanto: a Inquisição desabou sobre nós como um flagelo. Nada acontece
no mundo que Deus não permita.
Chorando lágrimas de Dor, certamente. A Inquisição foi a forma que revestiu a
maldade humana desabando sobre si própria! O Braço de Deus apenas deixou de
suster a avalanche de malícia que fomos acumulando no monte sobranceiro ao vale
de lágrimas em que vivemos. E a nossa vergonha caiu sobre nós. O Mistério do
Amor de Deus inclui a Justiça de Deus. A Inquisição aí está revelando-nos a
nossa própria ignomínia! Poderia haver alguém que, no meio dos seus horrores, a
julgasse sinceramente justa? Podia. Porque a Inquisição era, foi justa! Está aqui a heresia: então, em
nome de Deus, julgando sinceramente estar fazendo a Sua Vontade, pode um homem
praticar este horror!
– Ajuda-me, Jesus.
– Horror é o Pecado.
– Sim, Jesus, eu sei já que o verdadeiro
horror cometemo-lo todos ao fugir de Ti, pelo Pecado, mas a crueldade da
Inquisição, de todas as Inquisições, não pode ser Vontade Tua!
– E não. É Dor Minha.
– Pois. Eu entendo, Jesus. Mas o meu
problema, o nosso problema aqui é encontrar e executar a Tua Vontade. Pode um
homem achar justa a crueldade da Inquisição julgando sinceramente obedecer-Te,
julgando estar a fazer a Tua Vontade?
– Pode. Se a Dor do seu coração for um
pedaço da Minha Dor.
– Só eram então Teus amigos aqueles a quem
doía a dor dos condenados?
– Sim. Só esses eram sinceros. Toda a outra
compaixão era fingida.
– Mesmo que a não sentissem fingida?
– O Mal vai embotando a sensibilidade do
coração, tirando-lhe a pouco e pouco a sinceridade.
– Jesus, para que me deste a ler o episódio
de Dina?
– Para te falar da crueldade.
– Não entendo, Jesus. Os Siquemitas precisavam
de ser castigados?
– A violação de Dina é simbólica. Toda a
violação é Pecado. Mas ai daqueles que se atrevem a castigar em Meu Nome.
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