Reli muitas vezes já estas palavras escritas
há dezoito anos! Conseguirá o leitor perceber porquê?
23/2/95–
10:09
Sou extremamente
frágil. Como se caminhasse sempre na corda bamba, sobre um precipício.
Mantém-me em equilíbrio apenas a vara que os trapezistas costumam usar, esta
vara que o Senhor pôs nas minhas mãos, dizendo: Vá, não tenhas medo; com esta
vara conseguirás chegar ao outro lado! E assim caminho sobre a fina corda,
descalço, pés doendo, devagar, vacilando, reequilibrando-me, o precipício
sempre lá no fundo de bocarra escancarada pronto a devorar-me, e eu caminho de
olhar na outra margem, mente concentrada, coração pulando tenso, de medo e de
desejo de chegar, agarrado só à vara que em lado nenhum se apoia, sentidos
todos atentos a esse misterioso equilíbrio, a força invisível, mas a única que
me pode levar à outra margem!
Esta vara é a minha
Fé, toda a Fé que o Senhor meu Amigo até agora me deu. Caminho progressivamente
mais afoito, é verdade, do treino que já levo de caminhar sobre a corda, de
tentear a vara. Mas é ainda sobre a corda que caminho, o precipício em baixo, só
a vara oscilando, a manter-me de pé, a manter-me caminhando.
É esta ainda e só a
minha Fé. Uma Fé vacilante, tensa de inseguranças e de medos. Mas mesmo assim
leve, assim frágil, é a única coisa que
me mantém vivo! Se ela me abandonasse agora, morreria irremediavelmente.
Nem sequer poderia já voltar para trás. Nem quero: o que deixei nesta margem
acabou por esgotar o seu interesse para mim. Desde que aceitei dar os primeiros
passos na corda, eu sabia que começava a pisar um caminho sem regresso. Mas não
foi por fatalidade que o iniciei; foi por pura sedução do Mistério da Outra
Margem. Uma sedução tal, que o abismo, roncando a meus pés, contra todas as
previsões da razão humana, ultrapassando todas as medidas da coragem humana,
deixou de constituir para mim um obstáculo intransponível!
Por isso a minha Fé,
esta mesmíssima frágil Fé que tenho, é já indestrutível Força em mim.
Indestrutível porque é a única coisa em mim que é inteiramente Obra de Deus, deste meu Deus-Irmão que se chama Jesus
e por Quem estou literalmente apaixonado.
É por isso que
confio em que tudo quanto aqui escrevo vem desta Fé. Que oscila, mas não parte.
Que me sustentará na caminhada até à Outra Margem! Como a vara do trapezista. É
por isso que as minhas palavras oscilantes, excessivas para mim como a vara
para o tamanho do trapezista, são só tão seguras, para já, como esta vara na
primeira viagem do trapezista. Mas são, mesmo assim, tão seguras como é segura
toda a Obra de Deus!
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