A construção da nossa mastodôntica Obra, a
que aqui se costuma chamar a Cidade ou a Civilização, não nos desenvolveu
capacidades; embruteceu-nos. Por isso entre a atarefada Marta e a contemplativa
Maria, Jesus diz que Maria é a que está certa. E Jesus é que sabe.
28/2/95
– É isso, Jesus, que me põe assarapantado,
literalmente suspenso no meio deste Mistério! Nunca supus que pudesse ser
assim! Os homens meus irmãos ensinaram-me que eu deveria ser autónomo,
independente. E tanto me repetiram isto, que eu julguei que até de Ti eu
deveria ser independente! Mais: eu cheguei a pregar com todo o fervor esta
independência de Ti. Alinhando na multidão instruída e manipulada por Satanás,
eu proclamava com a maioria dos padres que era até pecado pedirmos-Te para
resolveres Tu os nossos problemas! Como foi isto possível? Como foi possível
pensarmos, nós os Teus pastores, que era possível fazermos alguma coisa sem Ti?
– Vê, Salomão, mostra ao mundo inteiro o que
Satanás conseguiu fazer de vós!
– E vai continuar a conseguir. Ele vai
dizer-nos que estamos a pregar a resignação e a fuga do mundo que Tu amas e por
que morreste na Cruz passando horas Contigo em vez de irmos “para a luta”, em
vez de nos “empenharmos concretamente” nas “tarefas”, tarefas, tarefas,
tarefas, tarefas, tarefas, tarefas! Ele encheu-nos os ouvidos com esta palavra,
repete-no-la até à exaustão, até nos fazer crer que rezar é estar parado,
retirar-se para orar é perder tempo, o mundo precisa de nós, precisa, precisa,
precisa, precisa, precisa, precisa, precisa. E nós, desvertinados, lançamo-nos
na acção, a fazer coisas, fazer, fazer, fazer, chegamos à noite cansados e
deitamo-nos sem sequer Te dizermos boa noite. Dormimos melhor ou pior, mas de
manhã acordamos já com todas as nossas tarefas à espera, não temos tempo para
mais nada senão para fazer, fazer, fazer.
– E Eu como digo, como digo Eu, Salomão, tu
que já Me conheces um pouco?
– Tu sempre a dizer-nos assim: “Calma,
calma! Devagar! Ouve! Ouve! Espera! Não corras tanto! Ouve: planeia Comigo… Eu
sei… Eu é que sei como essas coisas têm que ser feitas… Olha: Eu sou!… Eu sou o
teu Criador, o Criador de todas as coisas! Só Eu sei toda a dimensão dos
estragos que vós fizestes comandados pelo Mentiroso! Pára um pouco! Isso não é
assim que se faz! Deixa-Me ensinar-te! Não vês que até agora o que tens
conseguido com tanta correria e tanto
cansaço é tão pouco? E ainda não descobriste porquê? Pára! Vá, calma, calma!
Olha: Eu com um sopro resolvo o que tu nem na tua vida inteira consegues
resolver! Dá-Me o teu corpo! Só te peço que Me deixes utilizar por um pouco o
teu corpo, as tuas mãos… e vais ver! Pára! Pára! Dá-me uma chance! Só uma
oportunidadezinha e vais ver!” É assim, Jesus, que Tu nos andas dizendo, eu
sei, mas Satanás – zás! – Satanás aproveita e bufa assim: “Era bom, não? Tudo
como por magia! Deitavas-te a dormir e as coisas apareciam-te feitas ao
acordar!” E ri-se com um sorriso alarve, triunfante. Demasiado alarve para
esconder a manha que lá tem escondida não sei onde, porque coração ele não deve
ter!
– E tu, Salomão, que respondes tu para lhe
tirares aquele sorriso da cara do bom senso e da lógica?
– Que a figura que está a fazer é ridícula e
que está a fazer de todos nós parvos!
– Porquê parvos?
– Porque nós sabemos todos ler. E está
escrito que o Reino dos Céus sofre violência e só os violentos é que o arrebatam!
Ora isto quer dizer tudo menos deitar-se a dormir! Que o diga eu! Todas as
noites, cheio de sono, me pedes para vigiar Contigo uma hora, às vezes duas e
mais, como esta noite, em posição incómoda, escrevendo…
– Deixa-me fazer de Diabo, Salomão: e isso
de que serve aos outros? Levantas-te mal disposto e o que consegues é
descarregar a má disposição nos outros!
– Apetecia-me dar-Te um abraço, Jesus, por
aquela de Te prestares a fazer de Diabo! És tão querido, tão próximo, tão nosso!
– Está bem. Mas então vá: que respondes tu
ao Diabo?
– Que é estúpido.
– Estúpido… com tanta lógica? Não é verdade
o que ele diz?
– Não, não é verdade! Estar Contigo dá paz,
serenidade, harmonia; não dá má disposição!
– Olha para ti: não tens tido ultimamente
atitudes agressivas, comportamentos irritadiços?
– Sim, e que quer o Diabo? Que eu fique anjo
por um passe de magia? É mesmo isso que ele diz, através de toda a gente: “E
tu? E tu? Que exemplo dás tu?” E é assim que me lixam! Que se lixam! Porque
pretendem assim calar a voz que lhes atinge o coração com a Verdade. Ajuda
aqui, Jesus!
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