Depois do louco alvoroço da primeira paixão, as emoções vão acalmando
mas, neste caso, nunca resfriando: Deus é um Fogo inextinguível. Daí que a
linguagem continua infantil: o coração continua ingénuo.
Confeitaria
“Márcio”, 21/12/94
– Senhor, tenho escrito tanto ultimamente
nas marcas tanto da Bíblia como da Vassula e tão pouco nestas páginas dos nosso
diálogos (posso dizer “nossos”, não posso?). Porquê?
– Porque cresceste.
– E daí?
– A adolescência começa a virar-se para
dentro, a juventude começa a raciocinar…
– Estou deixando de ser criança?
– Espero que não. Estás só tornando-te mais
profundo no Amor. Repara: que acabaste de escrever ainda agora na marca da
Bíblia?
– Sobre o Teu Amor.
– Que faceta do Meu Amor?
– A Misericórdia.
– “Misericórdia” faz-te um pouco de
impressão, não faz?
– Faz. Nós-homens consideramos a pena, a
misericórdia, quase contrária ao amor. Ninguém admite que se tenha pena de si.
Ninguém se admite digno de pena. É o nosso orgulho, não é?
– Sim. O que fez do vosso coração o orgulho!
– Não nos queremos admitir frágeis,
pecadores, miseráveis, é isso?
– É isso, Salomão, é isso. A serpente
meteu-vos no coração, logo no início, a ilusão da força! Ser forte! Ser forte!
– Não fracassar! Não fracassar! É isso?
– É isso, Salomão, é isso! Sempre de crista
muito alevantada, ridículos no vosso orgulho. Se soubésseis como sois
ridículos…
– Dignos de pena, queres Tu dizer, Jesus!?
– É isso, Salomão, é isso! Do que mais precisais
é de que o Pai tenha pena de vós.
– Merecemos morrer, não merecemos?
– Procurais teimosamente a morte, pobres
criaturas cegas!
– Se o Pai não tivesse misericórdia de nós,
morríamos como tordos, não morríamos?
– O Pai não vos deixa morrer. E mesmo mortos
vai lá perguntar, chorando, se quereis ressuscitar
– E ressuscita-nos, se nós deixarmos?
– Se vós deixardes, ressuscita. Ele pode
tudo!
– Tudo-tudo, não é, Jesus?
– É!
– Então também pode fazer com que a gente
deixe!
–
Apanhaste-Me. Mas aí há um problema…
– Já sei: a liberdade. A gente por cá também
prega uma lambada a um filho quando ele, usando a liberdade, escolhe coisas que
o vão prejudicar. Não podia o Pai do Céu também dar-nos pelo menos um
safanãozito, até uma lambada bem assente, se Ele sabe, como nós sabemos, que o
filho depois vai agradecer?
– Não sei que te responda, Salomão!
– Como não sabes? Ninguém vai entender essa
resposta!!!
– As crianças são o Meu fraco. Falaste
linguagem de criança. Se vos chegásseis a Mim, sempre com um coração de
criança, se pedísseis ao Pai em Meu Nome sempre com linguagem de criança, o Pai
fraquejava e cedia! Ele não resiste à Simplicidade.
– Nós somos complicação?
– Sois. Complicação pura, estúpida, progressiva.
– A gente até entende o que Tu dizes, Jesus:
nós também, perante um olhar, um anseio, uma dor de uma criança, não
resistimos. Como pudemos esquecer-nos da Inocência do Paraíso? Ela está-vos no
sangue, teimosa, em forma de ânsia.
– Alguns já a sepultaram totalmente, a
Inocência!
– Ressuscita-os, Senhor! Anda lá! Tu podes
tudo! Estabelece sobre a Terra Teu regime que substitua a nossa vaidosa
democracia. Vamos chamar-lhe… Pantocracia! Está bem? Pantocracia de Deus! Que
tal? Tu não és o Pantocrator?
– Pareces um adolescente entusiasmado com o
estudo do grego.
– Também gostas do grego, não gostas? Se
calhar foi também por gostares do grego que foste escolher uma grega para
Profeta do nosso tempo! Como foste perfeito na escolha da nossa Vassula! Grega
ortodoxa, nascida do simbólico Egipto, andarilha por muitos povos e línguas,
fixada no cerne da civilização apóstata! Tu é que sabes!
– A Vassula faz parte do Meu Plano. É
importante no Meu Plano de Redenção.
– Estou vendo, meu impecável Herói! Fazes
tudo com uma pinta que me põe literalmente assarapantado e mudo.
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