A partir do
texto 969, as mensagens são
retiradas do primeiro volume destes “Diálogos”. Nelas se vê um Deus nunca visto
que, por isso mesmo, poderá escandalizar, mas que despertou em mim uma
verdadeira paixão. Bem-aventurados, pois, aqueles que não se escandalizarem com
estas palavras.
Tinha saído há pouco tempo o livro “Funcionários de Deus”, do padre alemão
Eugen Drewermann, em que se denuncia o anti-testemunho de uma Igreja-poder. Jesus
nunca Se envolve nas polémicas da moda, mas serve-Se às vezes de acontecimentos
do momento para anunciar os Seus Princípios…
Confeitaria
“Márcio”, 29/12/94
– Não, Drewermann, Deus não saiu da Igreja! Tu sabes, Jesus, da emoção que me percorre ao opor-me, assim, ao Teu teólogo, Eugen Drewermann.
– “Meu” teólogo?
– E não é, Jesus?
– Achas mesmo que é?
– Só Tu perscrutas os corações, só Tu nos
conheces até à ínfima fibra do nosso ser, até ao mais fundo da nossa alma, só
Tu és Juiz. Não posso, eu, grão de pó que voa no ar ao sabor do vento, achar
absolutamente nada sobre os Teus sentimentos, sobre os Teus juízos. Mas quando
o Teu Amor me envolve e me invade, eu sinto palpitar os Teus Desejos aí dentro,
no Teu Coração de Fogo, um extraordinário Fogo que consome e purifica, que
aquece e faz brotar toda a Vida!
– E que te diz então o Meu Coração sobre o
teólogo Drewermann?
– Que o amas.
– Incondicionalmente?
– Incondicionalmente.
– E discordas dele? É preciso esclarecer
isso.
– A raiva que ele tem à máquina opressora em
que a Tua Igreja se tornou através dos tempos e em especial hoje – hoje, porque
é hoje que ele vive, que nós vivemos – aquela raiva há-de ter também pelo menos
um pouco da Tua Ira. E por esta raiva, que parece sincera, Tu deves abençoá-lo,
não abençoas, Jesus?
– Todo o zelo do Meu Nome tem a Minha
Bênção!
– Porque não foste mais claro?
– Os assuntos relativos à alma do Meu Eugen
são confidenciais entre Mim e ele.
– Sim, Jesus, meu Pantocrator…
–Porque te vieram as lágrimas aos olhos?
– Vêm sempre, quase sempre acompanham a
enorme emoção que sinto quando pronuncio aquele Teu Nome. Fico inundado de
felicidade, só em pronunciar PANTOCRATOR!
– Porque te lembrou aquele meu Título,
agora?
– Ai eu é que sei? Deixa ver… Eu estava a
pensar na Igreja-Poder… Foi por isso, com toda a certeza! Só Tu deves poder, na
Tua Igreja. Mais ninguém. Mais ninguém! Mais ninguém, Jesus, meu querido Deus
Pantocrator! Qual teocracia! Qual aristocracia! Qual democracia! Só Tu deves poder
na Tua Igreja! A Igreja é o Teu Corpo! Haverá alguma coisa no meu corpo, alguma
unha, algum braço, algum estômago, algum coração, algum cérebro que possa
alguma coisa sem mim?
– Eh lá! Vê o que escreveste: que és tu sem estômago, sem coração sem cérebro…?
– Eu quis dizer uma coisa muito importante,
mas não sei se me exprimi bem.
– Exprimiste muito bem.
– E agora? Como explico?
– Não expliques. Deixa falar o coração.
– Não aquele coração que eu pus fora de mim,
pois não?
– Não. O coração que ficou, depois de teres
posto fora aqueles órgãos todos. O coração que forma o teu eu profundo.
– Sim, esse. Esse que, mesmo ferido, mesmo
mutilado, mesmo cortado rente, tem raiz em Mim e por isso voltará sempre,
teimosamente, a rebentar de novo, com novo caule, na próxima Primavera!
– Jesus, meu querido Mestre, Tu é que sabes!
Dás tanta confiança à gente!…
– Que te diz então esse coração?
– Ia escrever Coração assim, com maiúscula…
– Escreve, podes escrever: o teu Coração,
esse, esse de que te falei, é maiúsculo.
– Ah, então é por isso que Te sente
Pantocrator, que Te sente enorme e descalço e vestido de farrapos e sangrando?
– Explica, Salomão, explica isso do “enorme
e descalço e…”
– “Isso” é a Igreja. “Isso” és Tu
enormíssimo e descalçado naquele pretório e coberto de farrapos sobre os
vergões da flagelação e sangrando da cabeça por causa daquela coroa e sangrando
das Mãos e dos Pés e do Lado por causa dos ferros que se Te enterraram no Corpo!
“Isso” é e há-de ser a Tua Igreja! “Isso” és Tu-Igreja! “Isso” és Tu-Carne!
“Isso” és Tu-Nós-homens! Porque é que as pessoas não entendem isto? Esses pés
descalços, esses farrapos ridículos, esses ferros espetados no Teu Corpo não
são “eles”!!! Não são “eles”!!! Não são “eles”, caramba!!! Nunca mais
entendemos isto! Não é o Papa, não são os bispos, não são os padres, não são
“eles”, gente!!! Sou eu! És tu! Tu! Tu também, Drewermann! Tu também ao
assumires autoridade para afirmares que “Deus, hoje, saiu da Igreja”.
– E tu, Salomão, ao assumires autoridade
para assim julgares o Meu filho Eugen!
– Apanha, Salomão! Apanha nessas trombas,
que é para não meteres o nariz onde não és chamado!
– Porque choras?
– Porque gostei desta, Jesus! Faz isso
sempre! Fiquei literalmente eufórico com a Tua intervenção e chorei de puro
entusiasmo! Denuncia, Jesus! Denuncia a podridão, onde ela se encontrar!
Fiquei, mais uma vez, a saber que a podridão está em mim!
– Está em ti, sim. Mas está do mesmo modo em
toda a Minha Igreja!
– Vais ser o Pantocrator de novo, não vais,
Jesus? Choro outra vez! Eu não queria que ninguém mandasse na Tua Igreja! Só
Tu! Só Tu, querido Pantocrator! Não deixes ninguém mandar no Teu Corpo!
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