Só me quero
deitar. Quase adormeço aqui assim encostado à cama, de caneta suspensa.
– Vês, Jesus? Que se
passa? Fiz-Te algum mal? É o Diabo que me está bloqueando a torrente do Teu
Amor? Se é, expulsa-o: só Tu és capaz de o fazer.
– Meu pobre Salomão,
como tu és frágil!
– A quem o dizes,
Jesus!
– Porque passaste ao
diálogo Comigo?
– Não sei. Talvez
porque o diálogo me aproxima mais de Ti. E quando o meu coração está frio…
– Como se aquece o
coração?
– Não sei. Não sei
mesmo. Só sei que só o Teu Amor o aquece. Mas como se chega ao Teu Amor?
– Não sabes como se
chega até Mim?
– Andando.
Caminhando sempre, mesmo que apeteça desistir. Tu estás sempre lá à nossa
frente, à nossa espera. Por isso fala-me e o meu coração será incendiado.
– Queres um incêndio
no teu coração?
– Permanente!
– Então reza. Não só
por ti, mas pelo Povo todo. Como Azarias, como Daniel. Como todos os Profetas.
Constituí-te Profeta para todo o Meu Povo. Para falares a ele e para Me falares
dele. No meio de todas as chamas em que te colocarem, rezarás pelo Meu Povo e
nenhuma chama te atingirá.
– Eu sou Azarias,
Daniel?
– Já te disse mais
do que uma vez que te quero Profeta para o Meu Povo.
– Olha, Jesus: não
deveria eu ouvir isto e desfalecer de pasmo e gratidão? Como fico assim
indiferente?
– Não estás
indiferente, se estás caminhando. Olha as horas.
– 5:20.
– Vês? Há quanto
tempo estás ajoelhado?
– Deixa-me ir ver…
há uma hora e vinte e seis minutos.
– Vês? Vieste
andando. Chega-se ao Meu Coração andando.
– Mas eu queria
sentir e não sinto nada.
– Olha as horas.
– 5:26.
– Interpreta.
– Tu estás aqui. Eu
sou a Tua testemunha no mundo dominado pela Besta.
– Vês? Quero-te
caminhando sempre entre o Meu Povo que nada sente, a quem a Besta roubou o
Amor.
–v Sim, Jesus. Recebe
o meu frio.
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