A partir do
texto 969, as mensagens são
retiradas do primeiro volume destes “Diálogos”. Nelas se vê um Deus nunca visto
que, por isso mesmo, poderá escandalizar, mas que despertou em mim uma verdadeira
paixão. Bem-aventurados, pois, aqueles que não se escandalizarem com estas
palavras.
E a linguagem continua
informal, espontânea, enfim, a linguagem típica dos primeiros tempos de uma
paixão: nem meio ano tinha passado depois deste encontro tão inesperado com a
pessoa tão próxima, tão concreta, tão viva, de Jesus…
– E então que te diz o 13?
– Para já, azar.
– Acreditas no azar?
– Não!
Não há azar; há só Deus e há o Demónio e há o Homem, no meio, com o seu livre
arbítrio.
– Refere a tua hesitação.
– Demónio. Eu ia escrever Serpente.
– Porque não escreveste?
– Porque não ficava tão claro: a serpente é
só um símbolo.
– E
Demónio não é só um símbolo?
– Não. É a realidade.
– Que dá azar?
– Que pode violentar a liberdade que deste
ao Homem.
– Foi por isso que hesitaste também depois
de teres escrito Demónio?
– Foi. Achei que ficou muito mal ali Demónio
com maiúscula, junto de Deus com o mesmo D maiúsculo. Cheirou-me a ofensa ao
Teu Nome: o Diabo nem de longe nem de perto se pode comparar com Deus!
– Porque mantiveste o D maiúsculo?
– Não sei. Porque sempre escrevi assim,
embora muitas vezes já tenha pensado em escrever com minúscula. Porque é um
nome próprio e em Português, pelo menos, tem que se escrever com maiúscula.
Porque tem, apesar de tudo, uma enorme força.
– Que força tem o Demónio?
– Como queres que eu diga, Jesus? Que
pergunta! Como posso medir a força do Demónio?
– Caracteriza a força do Demónio.
– Eu?
– Porque não? Não a sentiste já?
– É pela experiência que chegamos ao
conhecimento?
– Não é?
– Que professor mais estranho! Nunca
responde; só pergunta… Desculpa, escrevi professor com minúscula.
– Não faz mal. Fala da força do Demónio pela
experiência.
– Olha, apetece-me dizer já de rajada: não
tem força nenhuma à Tua beira!
– Nenhuma?
– Se Tu estiveres presente, Ele caga-se
todo.
– Porque te riste?
– É calão, aquilo.
– Gostas de falar calão, não gostas?
– Palavrões nunca digo. Gosto é de falar
Contigo como falaria com o mais íntimo amigo.
– Se estivesses com qualquer amigo rias-te
na mesma ao dizeres aquele calão?
– Provavelmente não. Acho que me ri por
causa da figura do Diabo e… e acho que também por ter ficado aqui escrito,
preto no branco, aquela “grosseria”.
– Porque puseste aspas em “grosseria”?
– Porque só é grosseria para as pessoas
chiques.
– E pretendes com isso atingir as pessoas
chiques?
– Olha, tenho medo que me dês um raspanete.
Tu amas as pessoas chiques exactamente como amas as outras pessoas todas:
loucamente. Mas devo confessar que me aborrece o “chiqueiro”. Gosto de as
provocar com “grosserias”.
– Onde íamos?
– Ai eu é que sei?
– Não sabes? Que é feito da tua seriedade?
– Olha, Jesus: perdi-a.
– Parece: tu eras um homem tão sério…
– Era. Queria muita lógica, muita
profundidade…
– E agora não queres?
– Quero na mesma. Mas há algo de novo em
mim, sem dúvida: a minha lógica, agora, é a da Simplicidade e acho também que
só os simples são profundos.
– Disseste, por exemplo, alguma coisa de
profundo sobre o Demónio?
– Disse. Acho que disse.
– O que foi?
– Que à Tua beira ele se caga todo.
– Profundo, isto?
– Profundíssimo: Tu és o único que É.
Perante Ti, o Demónio é… perdão, o Demónio não
é.
– Então isto é que é profundo!?
– Quem tiver cabeça para profundidades
daquelas…
– Que pensas dos que aprofundam com a
cabeça?
– Que
são muito importantes no Teu Reino, se a cabeça deles for iluminada pela Tua
Luz.
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