Insisto em que é necessário chegar a Jesus pelo coração, isto é, pela
paixão. Depois Ele faz o resto: conduz-nos a todos os Mistérios. O Pai costuma
ser uma das Suas primeiras revelações. E nunca mais O esquecemos. Para mim,
porventura a coisa mais marcante foi a visão da Lágrima enorme no Rosto sereno
do nosso Pai…
12/8/95 – 6:34 – Rossão
Ponho-me a calcular: são 6:34, se estiver
duas horas vigiando, como é costume, serão 8:34, está na hora de levantar, já
não durmo mais hoje, depois ando para aí a cair, mal disposto, de tarde não vou
poder dormir a sesta, porque tenho que fazer, além disso há o barulho da festa
que à noite então é que me não vai deixar dormir com o conjunto a tocar até às
tantas da madrugada aqui mesmo em frente…
Resmungo, pois, com Deus, que assim me
obriga a… “Eu não te obrigo a nada!” – responde Ele muito nítido, com uma
expressão de Pai compreensivo, sereno, como quem espera com infinita paciência.
Eu é que me não sinto nada bem assim resmungando e calculando e peço-lhe:
– Paizinho, desculpa. Eu deveria saber já
que Tu nada exiges, que só olhas do Céu os Teus filhos todos e velas por que
eles não passem fome, nem frio, nem dores. Exiges tão pouco, que quando isso
acontece só uma enorme lágrima, do tamanho do globo terrestre, Te rola pela
face apesar de tudo tranquila sobrepondo-se sempre à Dor e à Raiva que escondes
no Coração. Raiva também, pois. Nós custa-nos muito a admitir que também haja
Cólera no teu Coração, porque para nós estar enraivecido é estar descontrolado,
é dar lugar ao ódio, enfim, é sempre uma mancha no amor. Mas em nós nada é
puro, doce Pai! Até o carinho nos vem quase sempre sujo da sofreguidão da
posse, da apropriação do que não é nosso… Vês? Que filhos Tu tens, pai! Mas Tu
esperas, esperas. E tão pouco exiges, que continuas dando, sempre dando com
essa Lágrima quente sempre na Tua Face tranquila, há tanto tempo, há tanto
tempo!… Deves-Te sentir o mais fracassado dos pais! Desculpa, Amor. Deixa-me
que Te trate assim, porque, com o meu coração tão pequenino e seco, tudo o que
vejo em Ti, quer na Lágrima, quer na Raiva, quer no Olhar, quer no Fogo, é tudo
um imenso, quente e terno Amor. Não és nada mais: és Amor só. Quem me ensinou
isto? Foi o Teu Jesus. Como deves gostar d’Ele! Aquela Cruz, Pai!… Ele foi tão
querido, não foi? Olha: também ainda não Lhe encontrei nada que não fosse Amor
só. Ele é um Professor tão bom, sabe ensinar tão bem!… E o Teu Espírito, tão
Imenso tão Forte, tão Leve, tão Subtil, tão Presente!… Como deves amá-Lo, a
esta Tua Presença na mais pequenina partícula de matéria, na mais longínqua
galáxia, no mais rebelde coração dos Teus filhos! Também só vi Amor ainda no
Teu Espírito, com este meu mirrado coração. Tão querido, Ele! Tão doce, tão
solícito, aqui dentro! Ah, Pai, Paizinho, como eu queria gostar de Ti! Olha: eu
queria ajudar o Teu Filho a revelar o Teu Coração, a curar a nossa Dor. Eu
queria tirar-Te do Rosto essa Lágrima tão grande!… Mas muitas vezes não sei o
que faça, sinto sempre uma impotência tão grande… É tamanha a nossa Dor! É tão
incompreensível a nossa Estupidez! Somos mesmo estúpidos, Pai, não somos? Como
é possível que estejamos há tanto tempo a sofrer este horror e não tenhamos
ainda procurado o caminho de regresso à Tua Casa, onde sabemos que éramos tão,
tão felizes?! O Teu Jesus bem nos ensina, mas nós… Ah, se eu pudesse!…
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