Em todas as páginas destes Diálogos, em todas as Profecias mais recentes, não falando já na própria Bíblia, se aponta a Fonte Originalíssima da nossa Desgraça: um esplendoroso Anjo, que a tradição chamou Lúcifer, o Portador da Luz. Por isso, contra a pressionante, chantagista tendência actual, nunca é demais insistir: o Diabo exise e é um ser bem individualizado e personalizado…
Satanás
existe, gentes! Esta força que arrasta para o mal, perante a nossa
consciência que parece assistir impotente a esta sanha destruidora… que força é
esta? Pelo poder que tem, apetece personificá-la. Quem é? Porque não
somos nós senhores absolutos da nossa vida conduzindo-a sempre e
progressivamente para a perfeição e para a felicidade? O lógico seria que assim
acontecesse, não? Com as faculdades que manifestamente possuímos e nos
distinguem e colocam muito acima dos
outros seres vivos, o lógico seria que as aproveitássemos para fazermos bem a
nós próprios. Porque criamos continuamente este oceano de dor, porque não
paramos de ampliar a nossa angústia até ao insuportável? Que força é esta que nos
controla e domina? Os nossas sábios explicam-na de muitas maneiras, dão-lhe
nomes vários – nos últimos tempos surgiu a moda do Subconsciente, do
Inconsciente, do Infraqualquercoisa – contradizem-se, assumem modas e largam
modas, dizem todos que encontraram a última explicação, a objectiva, enfim,
estão continuamente provando ao mundo que estão sendo inteiramente manipulados
por essa força que assim os desacredita e ridiculariza.
A Bíblia, pelo contrário, não está com
explicações. Para quê explicar a própria simplicidade, porque está inscrito no
âmago da alma humana como evidência? Por isso a Bíblia nem sequer diz que o
Demónio existe: pressupõe a sua existência, parte do princípio de que toda a
gente o sabe, a Bíblia acredita no Homem! Apenas lhe pôs alguns nomes
simbólicos e por isso muito certeiros, tinha que ser, a Coisa tinha que ser
tratada por algum nome, que diabo! Até para não fazer dele um tabu, um
misterioso ser sem nome e dar-lhe assim a importância que ele não tem. Alguns
destes nomes tornaram-se mais conhecidos, pela pertinência do seu significado.
Um deles é Serpente: o Demónio vem dissimulado, rente à terra, coleante,
poucobarulhento, insidioso, subtil, encantatório, murmurante, enfim,
está-se-lhe no papo sem se dar conta. Outro, um nome corriqueiro mas não menos
certeiro, é Diabo. Enquanto Serpente lhe revela o feitio e a táctica, este
revela-lhe a consequência. De facto, Diabo (Dia-bolus), palavra formada de duas
gregas, significa Intrometido, isto é, aquele que se atira para o meio de
qualquer coisa para a separar. E não é esta exactamente a consequência do
trabalho deste senhor empreiteiro? Em que consiste a dor senão na destruição da
Harmonia original? Há ainda um outro nome, este mais raro, mas ainda mais
personificante: Satanás. Este aparece com ar de chefe de todos os bandos de
demónios espalhados pelo mundo. Vem revestido de um ar quase aristocrático,
exibindo uma empolgante máscara de poder e glória. Creio saber que Satanás
significa originariamente “acusador público”. Ora é exactamente este o
resultado final de toda a acção do Demónio: ele levanta-se soberbo no meio da
Cidade da Dor que construiu com a ajuda de todos nós-lacaios e, de dedo
apontado, cínico, sarcástico, sádico, acusa, acusa, acusa, acusa-nos a nós de
todo o mal, acusa Deus de todo o sofrimento, acusa toda a gente, menos a si
próprio, porque ele… até nem existe! Há cilada maior? Há cinismo mais sujo? Há
sadismo mais repelente?
Satanás, no seu trono, deve rebolar-se de
riso.
Assim se edificou e assim se mantém
estruturado o reino de Satanás, o Príncipe das Trevas. Escrevo Príncipe das
Trevas com maiúscula, porque este senhor esmaga, manda um peso dos diabos! Que
palermas somos, todos nós! Que revoltante é a nossa estupidez, se pensarmos que
passamos a vida a ajudar este monstro a fabricar a nossa própria Dor!
Não é tempo já de abrir os olhos?
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