Aprendi do meu único Mestre que Deus está a todo o momento querendo
comunicar connosco, fazendo-nos inúmeros sinais que, na nossa correria, sempre
desprezamos. Se neles fixássemos a atenção, estaria restabelecido o nosso
diálogo com Deus. Tem sido esta quase exclusivamente a minha forma de ouvir. Eu
nunca ouvi palavras.
4/8/95
– 8:34
Acumulam-se
folhas e folhas. Tenho receio de me estar a repetir, de estar a registar coisas
sem o mínimo interesse, nem sequer para mim, talvez, e não sei ainda para quê
ou para quem são estas centenas de páginas. No entanto Jesus continua fazendo-me
Sinais para que escreva… Reparo agora: escrevo sempre Sinal com maiúscula.
Porquê? É que dentro de mim atribuo-lhes uma importância enorme. São como
palavras. São como impulsos de amor vindos directamente do Espírito que enche a
terra inteira. São como mensagens de Deus, quase cifradas em código secreto e
confidencial, cuja chave Ele revela só ao próprio a quem as dirige. Os Sinais
são aparições de Deus à alma: só as almas os podem ver. Quem for só olhos
carnais, nunca verá nenhum Sinal do seu Deus, mesmo que contra ele esmurre o
nariz! Os Sinais são tudo o que nos caminhos deste mundo temos para comunicar
com Deus. O meu próprio ouvido é feito de Sinais: impressões, impulsos,
palpitações não sei onde, circunstâncias, espécie de raios de substância luminosa,
espécie de pequenas ondas sonoras, às vezes com a cor do timbre, mas enfim,
palavras não são; eu é que traduzo tudo isto em palavras. Porventura o que está
certo são aqueles sinais todos e não as palavras. Pôr aquilo em palavras é já
de certo modo trair a luz dos Sinais que, embora luz reflectida, é
provavelmente mais pura que a das palavras. Mas como nos entenderíamos de outra
forma? Falar é um risco que Deus correu, em Seu Filho Jesus. E viu-se que risco
foi! O que fizemos das palavras do pobre Carpinteiro de Nazaré! A Segunda
Pessoa da Trindade não precisava de falar:
Ele é o Verbo. Ele é, em Si mesmo,
Voz que, no simples ser, faz! As
palavras humanas são também um precário recurso, um penoso meio, são também
lágrimas, são também suor do nosso rosto que temos que suar para comermos o
nosso pão de cada dia! As palavras nasceram com o Pecado. Para quê palavras
antes do Pecado? Nós comunicávamos vendo… E vendo agíamos e esse agir era
participar do Ser do Verbo e este agir seria amar e este amar seria também
criar sob o impulso tumultuoso do Espírito, sob o Olhar sorridente do Pai!
Mas aqui falamos e as palavras são, mais do
que sinais… perdão, menos do que sinais, são só traduções dos primeiros,
autênticos Sinais de Deus que captamos cá dentro com não sei que aparelho
receptor. Ao traduzi-los por palavras, tanto revelamos como encobrimos, as
palavras pertencem ao nosso tecido placentário, são em verdade todas parábolas, aglutinado grego onde fomos
nós os portugueses e outras línguas buscar “palavra”, que quer dizer
exactamente “coisa lançada ao lado ou à volta de” como que a chamar a atenção
para, e simultaneamente proteger e encobrir algo de misterioso que dentro
cresce… Isto disse eu n’ “O Oitavo Dia” que é, todo ele, uma Parábola
encobrindo o meu querido Carpinteiro de Nazaré, que por sua vez está encobrindo
o Verbo que no Princípio bastou querer para tudo ficar feito… Mas foi assim
encobrindo, encobrindo, protegendo, protegendo, não fosse a Revelação que
trazia esmagar-nos ou volatilizar-nos, que Ele, o meu querido Carpinteiro
chamou a atenção para dentro, para dentro… Repare-se como revela encobrindo o
dramático espectáculo da Cruz. Meu querido Carpinteiro! Meu inexcedível Mestre!
Por isso chamamos à Cruz O Sinal!
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