Este encontro com Jesus foi o máximo acontecimento da minha vida. Porque
Deus Se tornou o meu próximo mais próximo.
14/7/95 – 4:45
Onde estou? Ainda faltará muito? – é esta
interrogação que caracteriza a minha paisagem interior neste momento. Porque a
sensação dominante é a de que já não posso muito mais. É como se a todo o
momento eu esperasse uma espectacular libertação. Como o Êxodo. Como a
Ressurreição ou o Pentecostes. Agarro-me à túnica de Jesus para O fazer andar
mais devagar e para O não perder e vou-Lhe dizendo: Ainda falta muito, Mestre?
Não sei se aguento… Mal Lhe ouço a Voz, de tão diminuído que estou em todas as
minhas faculdades. Também Ele parece falar menos agora, como se estivesse
também cansado. Mas não O sinto disposto a parar.
Nem eu. No fundo, não me apetece parar;
quero é chegar. Parar é atrasar o dia da chegada. E se vou ainda a meio? E se
estou ainda no princípio? E se isto é ambição e nunca chego? Sim, até isto me
passa pelo coração! Mas não dura muito tempo: recordo as Maravilhas que o
Senhor fez no meu coração, o carinho com que tem acompanhado toda a minha
existência e concluo que é impossível ser o pecado o autor dum percurso destes.
Sinto até que posso estar a ofender o Mestre com esta dúvida, mas estranhamente
Ele parece considerá-la saudável… Caminho, pois, sem vontade de parar e sem
saber onde estou. Cá dentro há uma teimosa determinação: mesmo que isto seja
ainda só o princípio do Deserto, eu não vou desistir. Tenho até medo desta
teimosia: não virará ela obsessão ou fonte de méritos?
Se alguém ler isto, dirá que eu tenho uma
alma complicada. Mas que posso eu fazer? Não é assim, como cada um é, que Deus
nos ama? Tenho é que Lhe apresentar esta complicação para que Ele a cure,
fazendo-a virar simplicidade. Além disso, quanto maior é a disformidade, maior
é a maravilha da cura, mais se realça a glória de Deus.
Sinto-me muito cansado, isso sinto. Mas
esteja onde estiver, no Deserto, eu creio no meu Jesus: Ele sabe tudo e é muito
meu Amigo.
– Dá-me de beber, Jesus! Dá-me qualquer
coisa que se coma e vamos. Vamos sempre, Jesus.
– Ninguém pode andar sempre.
– Também estás cansado, não estás?
– Estou. É muito longo o deserto que
criastes.
– Pois é, Jesus. Só sabemos destruir. Vamos
descansar um pouco? Desabafa comigo, se quiseres… O peso que Tu deves levar no
Coração!
– Estás suportando um pouco deste Meu peso…
Não te importas?
– Eu? Oh, Jesus! Bota para cá mais! Eu ainda
posso com mais!
– Tu estás cansado…
– Pois estou. Mas Contigo ao meu lado eu
sinto que posso ir até ao fim do mundo! Descansa aqui, Jesus… Olha, põe a
cabeça aqui assim… Eu faço de travesseira, eu não me importo… Olha: mas antes
de adormeceres, diz-me só onde está o meu Pão de hoje.
Não ouço nada. Jesus adormeceu. Vou também
ver se ainda passo pelas brasas.
São 6:23.
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