O
convertido, isto é, aquele que se apaixonou por Jesus, o Deus próximo, quando
dá conta, está a violar todas as leis que nos pretendem controlar a vida, a
começar pelas leis da Moral. É que o Reino aonde acaba de chegar não é deste
mundo.
3/7/95 – 4:15
Tudo o que não é alimentado,
morre. Toda a burocracia vive da Lei. Morre a burocracia se morrer a Lei. Morre
a Lei se o Espírito vier e tomar conta dos corações. Sinto isso em mim: tudo o
que era lei na minha vida, está caducando. Estas vigílias, por exemplo, são
contra a lei, a lei natural. Até esta, estranhamente, é violada. Porquê? Para
quê? Creio que para reencontrar a Natureza. Onde está escrito que a noite é
toda-toda para dormir? O que está escrito é que a noite é escura e há luar
muitas vezes e se vêem estrelas quando as nuvens não cobrem o céu. Os animais
dormirão toda a noite? O que eu vejo é ali fora na rua os cães dormindo de dia,
por vezes. E quando assim dormem de dia, que farão de noite? De vez em quando
ladram: isso significa que estão vigilantes e despertam ao menor fenómeno
estranho. E as plantas? Dormem de noite? O que vemos é que algumas se fecham à
medida que a luz se vai. Que estão fazendo? Porque se introvertem assim? Vão
dormir? Ou vão só meditar?
Passa toda a noite dormindo a Natureza? Ou
apenas pára para ouvir descansada? Tem a noite milhentos sons para ouvir. E tem
um céu inteiro para contemplar, um céu que de dia não se vê. Mas poderia
objectar-se que estas vigílias se estão tornando, elas próprias, uma lei. Só
aparentemente: é uma lei sem horário, é uma lei que ninguém impôs a não ser o
próprio coração, é uma lei que se recebe como dádiva, é uma lei que veio de
dentro e individualiza, é uma lei sem lei, é uma lei contra a lei.
Ontem não fui à Missa. Violei assim uma lei
religiosa em nome desta Lei Nova que dentro de mim está nascendo e dando já passos
vacilantes mas decididos e entusiásticos!
Também a nível profissional estou deixando
cair várias leis: cada vez mais estou dando a César só o que é de César e
deixando os mortos enterrar os seus mortos. Falta-me só descobrir uma maneira
de libertar daquele campo de concentração os alunos que estou vendo cada vez mais
para lá da máscara e lá por trás encontro atrofiados e feridos. Mas a Lei Nova,
que dentro de mim está ganhando forma e força, que dispensa todas as outras e
se chama Jesus, vai conduzir-me, através do Português e do Latim, à alma dos
jovens para os proteger das garras da lei da Cidade e os curar das feridas que
ela já fez. Não sei como, mas vai, vai ser assim, vai ser possível o Espírito
fazer das Suas, também numa escola.
Mas a nível da Igreja! Como se desmontará
tanta tralha, como se varrerá tanto lixo?
– Queres dizer-me, Jesus? Olha: e que farão
depois todos estes burocratas? Vai tudo rezar e anunciar as Tuas Maravilhas?
Vais converter-lhes o coração, não vais? Sim, pois, eu sei: têm que ser eles a
converter-se. Mas vão converter-se, não vão? Não vão resistir ao ímpeto do Teu
Espírito, pois não? Eu sei, eu sei que me estão já chamando ingénuo, que afinal
a anarquia também é contra a Tua Vontade. Mas eu respondo-lhes logo que exactamente,
que anarquia é o que temos agora e o que importa é estabelecer uma “Arquia” que
de vez transforme a máquina em Organismo vivo! Ah, Jesus, tenho que ir dormir,
sinto a cabeça muito cansada desta Nova Lei que me deste. Mas dá-me antes de
mais um Ensinamento dos Teus, para que quando chegar a hora eu esteja preparado
para executar as Tuas Ordens.
– Mateus, cinco…
– Cá está o cinco.
– Queres outro?
– Não!
– Mateus, cinco, quinze-dezassete.
– Só três versículos? É o Teu costume… Está
bem…
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