Levaram-me os meus Amigos do Céu a dar uma importância crescente aos momentos mais vulgares da vida e devagarinho fui entendendo porquê: eles são o suporte seguro dos momentos que nós dizemos invulgares, aqueles em que um intenso acontecimento absorve toda a nossa atenção. Sempre me intrigou, nas árvores, o tempo de inverno. Mortas elas não estão. Que está fazendo a vida, dentro delas? Podemos dizer que descansam. A verdade é que, quando chega a Primavera, elas espirram vida por todos os poros: em algum lugar, por uma qualquer via, aquela vida toda se esteve acumulando, reunindo toda aquela espantosa força. Verificamos que todo o espectáculo fora lhe veio de dentro: o descanso teve que ser então extremamente activo.
Somos sempre muito superficiais na nossa visão. Não admira: o Pecado consistiu em rejeitarmos a Força que nos vinha de dentro e que impulsionava toda a nossa vida; agora, ao regressarmos à nossa Intimidade, é com muito espanto que verificamos ser o que vemos fora só uma reduzida expressão da nossa riqueza interior. Lá dentro é que se dão os grandes acontecimentos. Dentro de nós, oculto aos olhos dos transeuntes, nada estagna, nada pára. Nós até sabemos muito bem disso: o que é que do tumulto do nosso coração transparece cá para fora? Não é sempre muito pouco? Como não há-de o nosso Criador, que vive e acompanha todo o movimento dentro de nós, enternecer-se com esses momentos calados, em que se preparam afanosamente as nossas primaveras?
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