– Jesus, meu Amor, vem cá, que Te quero pedir uma coisa com quanta alma tenho: não deixes que eu me aproprie de nada do que me deste e me continuas dando.
– Porquê? Não queres o que te dou?
– Como?
– Se to dou, é teu, é coisa própria tua. Não o queres?
– Quero, Mestre, é claro que quero! Mas não quero esquecer-me de que foi dado por Ti.
– Porquê? Há algum perigo de o esqueceres?
– Há, sim, que o Diabo não dorme: eu posso ainda e sempre, enquanto aqui na terra vivo, fazer o que fez Eva.
– Que fez ela?
– Apropriou-se daquele fruto…
– Repara que esse fruto lhe estava proibido: ela apropriou-se, de facto, daquilo que não lhe fora dado. Tudo o resto, no Paraíso, lhe fora dado e de tudo ela poderia tranquilamente gozar, como de coisa própria sua. Também tu, enquanto te não apoderares do que te não é dado, não te esquecerás nunca do Dom do teu Deus e poderás gozá-lo, não como coisa de outrem mas, em toda a tranquilidade, como coisa própria tua. Eu digo-to de outra maneira: enquanto pedires, nunca pecarás.
– Então o pão que como…
– Será teu, se o pedires ao Pai.
– Se não Lho pedir…
– Se o comeres sem Lho pedir, estarás comendo um fruto proibido.
– Tudo me é proibido enquanto o não peço ao Pai do Céu?
– É verdade. Mas repara: as proibições do Pai do Céu não são como as vossas, que logo viram castigo, se as violais; as proibições de Deus são só limites a dizer quem sois, a falar-vos do vosso tamanho em cada momento. Por isso, todas as vezes que Lhe pedis uma coisa, o vosso limite se alarga.
– Mestre, diz-me então: quem nunca pede, não tem tamanho!?
– Quem nunca pede, está morto; não tem, de facto, tamanho como ser vivente.
– Ainda tenho outra pergunta, Mestre: há algum limite para nós Teus filhos, um limite para além do qual não possamos mais crescer?
– Não. Havia um limite para Adão e Eva, porque eram só criaturas. Mas a Minha Incarnação fez de vós filhos e franqueou-vos todos os limites.
– Nós seremos agora sempre o que pedirmos?
– Sempre-sempre!
– Mestre, Tu és admirável! Não consigo fazer-te as perguntas todas que tenho aqui dentro fervilhando, tal é a amplidão do Mistério que acabas de me abrir!
São 4:02.
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