– Vamos falar dele agora, daquele texto, que parece conter uma heresia?
– Onde está a heresia?
– Tu pareces identificar-Te como “o Pai”.
– E eu não sou o Pai?
– Não: Tu és o Filho.
– Então como explicas que, no mesmo Evangelho do Meu João, por várias vezes Eu chame aos Meus discípulos “filhinhos”?
– É verdade que chamas filhos aos Teus discípulos, mas seria absurdo que chamasses Filho ao Teu Pai do Céu! Já o contrário, o chamar-Te o Pai do Céu Filho, o sentimos como natural.
– Queres então que ilumine mais um pouco este Mistério?
– Sim, mas apenas que nos ilumines com ele o coração; não gostaria, de modo nenhum, que a nossa Razão engordasse com aquilo que nos revelares sobre este Mistério.
– Deixa então que te escreva no coração as Minhas palavras, para que com o coração as transmitas aos Meus filhos.
– Ah! Quando nos transmites o Teu Coração, és como um pai!?
– Ah, Salomão, sem Mim, como conheceríeis o vosso Pai do Céu?
– Quando o Pai do Céu nos fala, Tu és as Suas palavras?
– Sou.
– E quando sentimos o Pai do Céu acariciando-nos com a Sua grande Mão, Tu és a Sua grande Mão?
– Sou. A Minha Mão que acaricia e cura é a Mão grande do vosso Pai do Céu.
– E quando contemplamos o Rosto do nosso Pai do Céu vigiando as rotas dos mundos e o aveludar-se dos lírios em todos os campos do Universo, é esse Teu Rosto vivo de Homem que nos está revelando o Rosto tranquilo do nosso Pai do Céu?
– É. Tudo o que vedes do Pai, é em Mim que o vedes.
– Sem Ti, o Pai, o nosso verdadeiro Pai, nunca teria para nós Palavras, nem Mãos, nem Rosto?
– Sem Mim, o vosso Pai permaneceria para sempre muito longe.
– Tu vieste para que O víssemos, o nosso Pai?
– Eu vim para que o distante Sonhador da Beleza Se fizesse Ternura Viva junto de vós e Lhe pudésseis chamar Papá!
– Nunca o nosso coração chamaria espontaneamente a Deus Papá, se Tu não tivesses vindo?
–v Estava previsto desde toda a eternidade que Eu vos ensinasse a conhecer a Providência amorosa do Meu Pai. E isso bastaria para a vossa inteira felicidade de criaturas imortais.
– Estou vendo, Jesus!… Mas Tu incarnaste na nossa carne de pecado e…
– Diz, filhinho, o que sentes.
– E aí a nossa carne corruptível, assumida por Ti, pôde suplantar o nosso barro imortal do início!… Em Ti o Pai amou-nos de tal maneira, que fez do nosso barro imortal de criaturas carne tenra de bebés nascendo-Lhe filhos, em tudo iguais a Ti!
– Acabas de escrever uma heresia, não reparaste?
– Reparei, reparei, meu querido Irmão, mas não me apetece nada retirá-la. Filhos em tudo iguais a Ti foi o que o Pai do Céu fez de nós, sim! Deixas-me ficar aqui esta heresia, deixas, Jesus? Não queres que a retire, pois não? Agora explicar isto que disse é que eu não sei… Acho que o Pai, quando nos vê nascer assim bebés, retintamente filhos Seus, nos ama, a cada um de nós, com a mesma intensidade com que Te ama a Ti!
Sensação estranha: se por um lado o Mestre quis que eu escrevesse assim tal qual, porque me senti bloqueado frente a outras formulações, fez-me sentir, por outro lado, algo que eu poderia verbalizar assim: Atenção, Profeta! Eu sou o Filho único do Meu Pai! Eu sou o Seu Filho muito amado, em Quem ele sempre pôs e porá eternamente todo o Seu enlevo! Assim como Eu tenho um único Pai, também Ele tem um único Filho, Profeta! Nunca esqueças isto e nunca pregues outra coisa aos homens!
– Não sei como faça então, Jesus. Continua dialogando comigo. Não deixes que nada do que ficar escrito Te ponha triste. Revela-Te como A VERDADE! Estilhaça todas as heresias e todos os dogmas que a nossa mirrada Razão criou, mas segura-nos sempre no círculo da Luz, que és Tu no meio de nós, e alastra! Deixa que a Tua Luz se difunda, clara e imparável, nas nossas trevas. Diz-me: que queres que faça? Tento explicar…?
– Não. Deixa que germine, no silêncio dos corações, o Mistério da Unidade.
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