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Geralmente não ligamos importância nenhuma aos passos do nosso passado. Ficamos marcados para sempre, talvez, por uma qualquer tragédia que nos aconteceu, ou ficamos agarrados a uma claramente doentia saudade de uma fase excepcionalmente boa da nossa vida; de resto, ouvimos contar ou recordamos vários episódios da nossa vida passada como curiosidades mais ou menos longínquas, que em nada marcam a nossa vida presente.
E no entanto, se o nosso coração for acordado para a Vida, começa todo o nosso passado a acordar, a espreguiçar-se, a levantar-se, vigoroso e esplendoroso, atraindo primeiro fortemente a nossa atenção, fascinando-nos irresistivelmente depois, provocando em nós já não um olhar distraído ou curioso, mas uma contemplação embasbacada, como nas paixões. Vede-o no meu testemunho: aquele episodio da viagem da minha mãe à Senhora da Guia dos Arciprestes comigo ao colo, por exemplo, ouvia-o eu contar, estranhamente mais pelas outras pessoas do que pela minha mãe, como facto com algo de mágico e épico, em que se realçava mais a viagem a pé, debaixo da chuva torrencial, dos súbitos raios, dos medonhos trovões, do que o milagre instantâneo do regresso do leite ao seio materno, afinal a esperança e a causa única daquela viagem. Mas vede a sedução permanente que este episódio tem suscitado na minha vida desde a minha Conversão, a ponto de me levar finalmente, sozinho, ao local do acontecimento, atraindo agora, mais fortemente que nunca, o meu olhar. Vede as páginas que já ocupou nesta escrita a longínqua visão da Luz, que nada mais era do que um fenómeno intrigante!…
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