14/2/00 - 4:07
Mais uma vez aqui estou, prostrado diante da minha Alma, tentando ouvi-la…
Mas estou agora advertindo nas implicações do que acabo de dizer: se me ponho assim diante da minha Alma, ela não é outrem? E quem sou eu quando me prostro diante desse outrem? Sou feito de quê? Eu existo fora da minha Alma? E outra pergunta tenho ainda a fazer: Não é Jesus que eu quero encontrar e ouvir? Como digo então que quero ouvir a minha Alma? Ele é a minha Alma?
São perguntas a que eu, obviamente, não sei responder, como ficarei sem resposta perante as outras perguntas todas que estes Diálogos suscitarem nas pessoas e elas mas fizerem cara a cara. Vou certamente dizer-lhes que tentem fazer como eu: que ouçam a sua Alma; é de lá que lhes hão-de vir todas as respostas. Hão-de ser certamente respostas diferentes das que eu daria, mas é essa diferença que nos vai unir. Se eu respondesse, correria o risco de parar este processo de escuta e então sim, estaria a estancar a Fonte que há em cada um dos meus irmãos, estaria a torná-los dependentes de mim e estaria deste modo a dividi-los de si mesmos e também de mim, porque mos tornaria dispensáveis, uma vez que deixariam de constituir para mim qualquer novidade.
Sei apenas que é a Verdade o que escrevo e é por isso que não posso dar respostas que calem as perguntas. É que a Verdade é viva e por isso a cada pergunta responde só com nova sede de perguntar. É isso que fazem as palavras que escrevo: elas só abrem caminho para a Alma de cada um, multiplicando aí sempre as perguntas e ampliando aí a sede que se vai traduzir em nova pergunta. E é por isso que as palavras de Deus nos tornam vivos: ao saciarem-nos, dão-nos uma nova sede e projectam-nos assim sempre para mais longe, como as ondas da vida.
Não sei, portanto, responder às minhas próprias perguntas. Elas reconduzem-me só, sempre de novo, ao tremendo Mistério que existe dentro de mim. Quem sou eu e quem é a minha alma e Quem é Jesus em mim, que parecemos ser três pessoas distintas e no entanto somos uma só e mesma pessoa? Quando me ponho a ouvir a minha Alma, sou eu que me prostro diante de mim próprio e quando aí dialogo com Jesus sou eu ainda dialogando comigo. E no entanto sou eu que faço perguntas, distinto da minha Alma que se me abre como uma árvore que desabrocha, distinto ainda de Jesus que me guia até à permanente surpresa que todo este fascinante Mistério me proporciona. Neste mundo as pessoas querem respostas, em vez de se deixarem fascinar. Por isso tudo murcha e acaba por morrer.
São 5:47.
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