“Mente sã em corpo são” é um dos ideais de perfeição humana muito em
voga, particularmente no mundo do desporto. Quis que Jesus me falasse daquela
tal “mente”, de que eu sempre tive alguma desconfiança. Repare-se também em
como aparecem em nós as saudades de Jesus, exactamente como nas nossas vulgares
paixões.
Confeitaria
“Márcio”, 4/12/94
(Não tenho condições mínimas para escrever:
a televisão está ligada em alto volume, algumas pessoas fazem muito barulho no
café e eu estou cabeceando de sono).
– Porque resolveste escrever então?
– Não sei. O mais cómodo para mim era ir
deitar-me… Talvez sejam saudades Tuas. Não tive nestes dois dias tempo para Te
ouvir na calma e no silêncio.
– E sabes o que queres escrever?
– Nem isso sei. Só tenho saudades Tuas e
quero estar Contigo.
– E que pensas que Eu te direi?
– Não faço ideia nenhuma. Só tenho saudades
Tuas e quero estar Contigo. Só me sinto bem Contigo no silêncio.
– Há muito barulho no café – disseste ainda
agora.
– Mas este barulho é confuso; não me
distrai. A verdade é que estou sentado, sem deveres a chamar-me… Fala comigo,
Senhor! Diz-me qualquer coisa!
– Que coisa?
– Uma qualquer, logo que ouça a Tua Voz!
Nunca mais a ouço nítida, como uma outra vez, de raspão, muito breve! A Vassula
é que tem sorte: falas-lhe páginas inteiras, moves-lhe a mão!
– Também a ti Eu movo a mão, também a ti Eu
falo.
– Mas não é a mesma coisa.
– Não há duas pessoas iguais para Mim!
Nenhuma das Minhas criaturas Me é mais querida que outra. Amo-te loucamente!
– Sempre achei estranha esta palavra que Tu
usas na Vassula. Loucamente?
– Uso a vossa linguagem.
– Como se diz loucamente na Tua linguagem?
– Não se diz. Tudo É! A linguagem do Amor é
SER!
– Ser em Ti?
– Não há ser fora de Mim!
– Como? Não entendo. E a Criação? A Tua Obra
não é fora de Ti?
– A Minha Obra não É sem Mim!
– Para quem está cheio de sono, a conversa
não é a mais adequada…
– Porquê?
– É muito abstracta, muito mental…
– Que pensas da mente?
– Não sei bem… É uma faculdade fria!
– Aquece-a.
– Pode aquecer-se a mente?
– Todo o corpo, todo o ser pode ser
aquecido.
– A mente pode amar?
– Recorda o Mandamento Número Um.
– Tenho aqui a Bíblia. Vou ler: (Procuro no
Antigo Testamento). Afinal, nos dois sítios em que estão os Dez Mandamentos (Ex
20 e Deut 5) não fala em mente. Mas eu sei que está em qualquer lado que o
Primeiro Mandamento é amar a Deus também “com toda a mente”.
– Queres continuar a procurar?
– Já agora…
– Para quê?
– Para entender o Amor. O Teu Amor! Além do
mais, assim espalho o sono!
– Porque não eliminas o sono dormindo?
– Porque tenho saudades Tuas.
– Gosto de ti, Salomão, Meu rei… Já
encontraste o que procuravas?
– Tu sabes que sim.
– Aonde?
– No Teu Evangelho. Foste Tu que formulaste
assim o Primeiro Mandamento! Afinal eu conhecia o Mandamento do Amor da Tua
Boca.
– Não lhe mudei nada. Só o exprimi de outra
maneira e assim o actualizei!
– Não deveria escrever O com maiúscula?
– Que achas?
– É evidente que sim. Trata-se do
Mandamento Maiúsculo por excelência! Está assim expresso por Ti em Mt 22, 37:
“Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, toda a tua alma, e toda a
tua mente.”
– E agora, que pensas da mente?
– Que serve para entender.
– E é fria?
– Horrivelmente fria quando a isolamos da
alma e do coração. O que acontece frequentemente connosco, nesta nossa mania de
nos “emanciparmos”.
– Consegues agora imaginá-la quente?
– Mais que imaginá-la. Consigo senti-la
quente.
– Porquê mais?
A imaginação é fria?
– Senhor, como Tu és meu amigo: a Tua
Presença aquece tudo em mim!
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