Por este tempo eu vivia esmagado com a descoberta deste Deus nunca
visto. Um Deus que me diz, por exemplo, que nada faz em nós se não Lhe dermos
autorização para o fazer!…
– Escreve, meu Deus! Que tudo o que eu diga
venha de Ti, Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor!
– Fala do teu sentimento dominante neste
momento.
– Pequenez. Fragilidade. Incapacidade.
Nulidade.
– Diz-Me a oração de há pouco.
– Deixa-Te estar aqui, Jesus! Sem Ti estou
lixado! Se Te vais embora, morro!
– Gostei muito desta oração. Sobretudo do
“lixado”!
– Verdade, Jesus? Não Te importas com o meu
calão? Não estás zangado comigo?
– Por causa do calão? Não! De modo nenhum!
– Não. Por causa de ontem.
– Estou magoado, sim. Não Me fujas, Salomão!
– Os prazeres do estômago são ainda em mim
Teus rivais! Como eu anseio por uma boa feijoada! Como eu me ponho ansioso, na
perspectiva de uma boa pinga! Nunca mais acabas com isso em mim, Senhor Deus
Todo-Poderoso?
– Só posso o que tu quiseres que Eu possa!
– Não pode ser! Então eu é que mando?
– És tu que mandas. Para Eu te curar, as
ordens são dadas por ti.
– Não pode ser, Jesus! Tu obedeces à
criatura?
– Não curo ninguém sem a ordem do próprio.
– Não pode ser! A tal ponto vai o Teu Amor?
– A esse ponto.
– Mas, uma ordem?
– Só obedeço ao Amor.
(Queria explicar, mas Jesus bloqueava-me o
raciocínio, que se emaranhava em hipóteses de formulação.)
– Sei já qual é a Tua pedagogia, Mestre.
– Isso. Não expliques. Todos devem caminhar
na escuridão ao encontro da Luz. A Luz procura-se.
– Procura-se, pedindo-A?
– Quando alguém procura alguma coisa é
porque há uma ânsia no seu coração.
– Essa ânsia é para Ti uma ordem?
– Mais do que uma ordem das vossas!
Obedeço-lhe instantaneamente, fielmente.
– A esse ponto Tu nos amas, Deus-Nosso-Tudo!
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