Talvez seja verdade que a Instituição religiosa nos infantilizou. Mas
também é verdade que o Diabo aproveitou esse facto para nos afastar do
verdadeiro Deus. Ouça-se:
Confeitaria
“Márcio”, 16/10/94
– Mestre, tenho tantas coisas a fervilhar
dentro de mim, que nem sei por onde começar esta aula.
– Ai tu é que vais começar a aula? Tu é que
és hoje o professor?
– Não! Nas Tuas aulas são ou podem muito bem
ser os alunos a começar as aulas. Eles vêm correndo, de coração a rebentar:
despertas-lhes tantas inquietações, tantas ânsias...
– Então vamos primeiro, por exemplo, às
inquietações.
– Os números, Mestre! Tenho medo de estar a
alinhar em superstições, de estar a ressuscitar a Cabalística, que nem sei bem
o que é mas de que tenho uma ideia negativa.
– Tens medo de não ser um homem do teu
tempo, de não seres uma mente emancipada!
– Emancipação! É isso! Ainda agora, ao
ler-Te através da Vassula, me veio à mente – talvez melhor, ao coração! – que o
grande pecado de muitos cristãos hoje é a Emancipação! Parecemos todos uns
adolescentes e jovens na fase da afirmação perante os pais. Somos então
possuídos de um verdadeiro desprezo por tudo o que nos parece ser infantil.
Abandonamos a fase da infância como período da nossa vida a esquecer
definitivamente. Distanciamo-nos dele, temos vergonha de lá voltar. E
bloqueamo-nos de tal maneira, que ficamos sem olhos e sem coração. É aqui que
entramos no reino das trevas: deixamos de ver e de sentir. É este o homem
emancipado! E meteu-se profundamente esta peçonha entre os cristãos. E alastrou
de forma impressionante! É esta a minha descoberta actual! Hoje, agora mesmo, a
estou vendo de forma dramática.
– Emenda.
– É esta a Tua Descoberta em mim.
– Acrescenta isso que te vai na alma.
– É uma peste horrível isto. Secou-nos o
coração, vendou-nos os olhos.
– Mas não era isto propriamente o que Me ias
dizer.
– Não. Eu queria era perguntar-Te como se
cura esta peste, como se lava esta peçonha. É que eu acho muito difícil:
estamos todos convencidos de que pregar o contrário da Emancipação é regredir.
– E não é?
– Não me baralhes, Mestre! A única
emancipação necessária é a emancipação do Reino das Trevas! Emancipar-se é
voltar a ser Criança.
– Vá, cita-me.
– “Se não vos fizerdes como meninos, não
entrareis no Reino dos Céus” – algures no Teu Evangelho.
– Fácil de entender, não?
– Mas até isto! Até isto, Mestre e Senhor,
eles distorcem!
– Eles?
– Sim, eles! Cristãos! Pessoas que usam o
Teu Nome! No Encontro Nacional de Cristãos de Junho passado insistiam em que
fazer-se criança era só, mais uma vez, “optar preferencialmente pelos pobres”,
pelos mais pequenos socialmente! Anda tudo a querer converter os outros,
Mestre! Anda tudo a precisar de pobres para se sentir cristão. Ninguém se atira
decididamente e de vez a fazer penitência, a converter-se a si próprio. Os
outros, os outros, os outros! Estou farto dos outros!
– Eh lá!
– Sei que não me levas a mal! É ou não é de
a gente se revoltar? As pessoas servem-se dos pobres, dos marginalizados, dos
doentes, dos deficientes como pretexto para fugirem àquilo que é
verdadeiramente difícil, mas a única coisa necessária: converter-se a si
próprio! É horrível. O Diabo é extremamente esperto. Manhoso como o raio que o
parta!
– Não rogues pragas!
– Nem contra o Diabo?
– Nem contra o Diabo. Relê o Meu Evangelho:
nunca insultes o Diabo! Nunca lhe chamei nomes gratuitos! Apenas o desmascarei.
Chamo-lhe Espírito Imundo. Chamo-lhe Assassino. Chamo-lhe Pai da Mentira! Mas
até atendo aos seus rogos: deixo-os ir para os porcos, mesmo correndo o risco
de arranjar sarilhos sérios na aldeia.
– Tiveste pena do Demónio?
– Até do Demónio tenho pena!
– Tu sabes que eu tremi ao escrever a Tua
última afirmação. Não há razões para tremer?
– Não. O Meu Coração até lugar tem para ter
pena do Demónio.
– Então é uma pena eterna?
– Uma pena eterna!
– E isso não te fará um bocadinho infeliz
eternamente?
– Ter pena não é ser infeliz: é uma das
facetas do Amor.
– Mas assim, eternamente?
– O Diabo será Diabo eternamente.
– Não sei se entendo. Diabo é Dia-bolus,
Intro-metido, O-que-se-atira-para-o-meio-de. Quando for o Definitivo Juízo, que
terá o Diabo que separar? Onde se intrometerá ele?
– Não vais já longe demais? Não tens coisas
mais próximas de ti para te preocupar?
– Não é legítimo sentir a Parusia Definitiva? Tu falaste nela! Tu és o culpado da nossa
curiosidade.
– Sentir. Disseste bem. Sentir tem a ver com
o coração. Sente a Parusia como criança. Ciência, só a Minha! Emancipa-te das
Trevas!
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