Deus nada exige de nós; só espera que vejamos como Ele nos amou e não
mais suportemos não O amar assim. Foi só isto que Jesus quis saber de Pedro
para lhe entregar o pastoreio do Seu Rebanho. De nada mais, por isso, será
feita a Sua Igreja prestes a renascer senão daqueles que O amam como Ele nos
amou.
29/6/96 – 3:11 – S. Pedro
– É grande, como sabes, Mestre, a minha
expectativa, neste dia do Teu Pedro.
– E que desejas, para o dia do teu Pedro?
– Até os meus desejos és Tu que os conheces.
– Como assim? Não sabes o que desejas?
– Se eu desejar as coisas do Céu, nunca sei
o tamanho e o alcance do que desejo.
– Então exprime o teu desejo e eu to
ampliarei.
– Amar-Te muito.
– Julguei que ias pedir a Fé.
– E pedi.
– A Fé é amar-Me?
– Não é ela outra coisa senão amar-Te.
– E tens muita Fé?
– Se Te tenho muito amor?
– Sim. Diz se Me amas.
– Ficas feliz se To disser?
– Se disseres que Me amas, fico muito feliz.
É a única coisa que eu quero ouvir de ti.
– E eu é a única coisa que quero de Ti.
– Como? A única coisa que queres de Mim é
dizeres-Me que Me amas?
– É.
– Dizeres-Me que Me amas vem de Mim?
– Só pode vir.
– Se sou Eu que te dou o que Me dás, onde
está a surpresa do teu amor?
– É que eu amplio o que me dás.
– Então dá-Me ampliado o amor que te dou.
– Procurei dentro de mim, mas não encontrei.
– O que é que não encontraste?
– Nada que Te surpreendesse. Não consigo
ampliar o Teu Amor.
– Não? Diz-Me só que Me amas.
– Eu amo-Te muito, meu querido Mestre. Vês?
Não Te surpreendi, certamente.
– Diz de novo.
– Não sei amar-Te como quero. Vês? Ainda
nada Te disse de novo.
– Diz outra vez que Me amas, Salomão.
– Eu queria amar-Te tanto, que Te desse o
que não tens.
– Isso não é uma heresia?
– É. Eu quero amar-Te hereticamente.
– Explica.
– Eu queria amar-Te como ninguém imaginasse
que se pudesse amar assim.
– O que é uma heresia, Salomão?
– A Tua Cruz.
– Como?
– A Tua Cruz é a máxima heresia.
– Porquê?
– Porque é aquilo que há de mais contrário a
Deus.
– Diz-Me então agora, Salomão: amas-Me?
– Não.
– Não?
– Perante uma heresia daquelas, ninguém
consegue ser mais herético que Tu.
– Como Me surpreenderás, então?
– Não sei. Mas tem que haver uma maneira de
Te surpreender.
– Porquê?
– Porque Amor é Surpresa. Se eu não Te
surpreender, não Te amo.
– E agora, Salomão?
– E agora, Mestre?
– Agora diz o que te aconteceu.
– Pareceu-me estar a arquitectar a sequência
deste diálogo e fiquei triste.
– Porquê?
– Porque estava olhando por cima do Teu
ombro.
– E o que quer isso dizer?
– Quer dizer que não Te estou a ligar
inteiramente a Ti.
– Então estás a ligar a quem?
– A mim.
– Olhar para trás de Mim é olhar para si
mesmo?
– Pois. Foi o que fez Eva.
– Que fez Eva?
– Tinha Deus na frente e quis ver para lá de
Deus.
– E para lá de Deus, o que há?
– Só se for o homem…
– Como?
– Para lá de Ti, estou a procurar-me a mim
sem Ti.
– E que encontras?
– O que Eva encontrou.
– O que foi?
– A Dor.
– O homem sem Deus é Dor?
– Como está à vista.
– Então como Me hás-de amar, Salomão?
– Olhando para Ti só: sempre atento ao que
dizes, olhos pregados só no que Tu fazes.
– Conseguirás assim surpreender-Me?
– É a única maneira.
– Como, se só fazes o que Eu faço?
– Talvez nunca tenhas reparado no que fazes.
– Sim. E…?
– Se eu Te imitar, ficas a saber a figura que
fazes.
– Ah sim? Por exemplo…
– Andar atrás dum grãozinho de pó. Andar
enterrado na merda até ao pescoço.
– Eu faço isso?
– Se fosse só isso! Tu fazes figuras muito
piores.
– Por exemplo.
– Se eu Te disser tudo de uma vez,
acabam-se-me as surpresas para Te fazer.
– Eu faço outras figuras para tu imitares.
– Sim, é verdade. Tu fazes as figuras mais
inimagináveis.
– E sabes porque faço Eu isso?
– Porque nós fazemos figuras muito tristes e
Tu imitas-nos.
– Eu imito-vos?
– Não notaste ainda?
– Acho que não…. Que vos ande a imitar…acho
que não tinha notado.
– Tu imitas-nos em tudo.
– Ah, sim?
– Desde que morreste naquela Cruz. Perdeste
aí toda a categoria. E como já nada mais tens a perder, fazes todas as outras nossas
figuras tristes.
– E isso…isso vale-Me de alguma coisa? Para
que faço Eu isso? Sabes?
– Não sei o que consegues nos outros. A mim
puseste-me aqui de joelhos a escrever e às vezes a chorar, como agora…
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