29/11/96 – 1:40
– Surpreende-me, Jesus! Mostra-me, mais uma
vez, o quanto me amas! Se não é tempo ainda de ouvir distintamente a Tua Voz,
continua lançando os fundamentos da Tua Igreja em mim, através do ouvido do
costume, o ouvido do tacto, fazendo assim da minha Fé um rochedo vasto e
inamovível.
– Diz que vantagens tem esse teu ouvido, o
do tacto, como tu lhe chamaste.
– É como o tactear do cego: é mais lento,
mas mais seguro; não avança sem se certificar da solidez do caminho que pisa e
da natureza das coisas em que toca. Está menos sujeito a enganar-se, porque
nunca é a aparência das coisas que se lhe impõe: se topar com um jarro com
líquido dentro, nunca dirá que é vinho, sem o provar. Vá, Mestre, continua.
Porque estás assim de tão poucas falas hoje?
– Porque quero que me apalpes. Não é do
tacto que estamos falando?
– É do ouvido, Mestre. Do ouvido do tacto.
– Terá que ser, pois, um ouvido com mãos,
com corpo….
– Sim, Mestre. Continua.
– Toca-Me, então.
– Ah, Mestre… Como faço isso?
– Como se toca? Não é com as mãos, com o
corpo?
– Sim, mas como faço, se Te não vejo?
– Faz como o cego. Como faz o cego?
– Apalpa. Mas apalpo como, onde, se não sei onde estás? Eu tenho que me encontrar, de qualquer forma, com o Teu Corpo! Ah, Mestre, que penosa está sendo esta escrita!… Eu não Te estou a entender: não terias que Te materializar para eu Te poder tocar?
– Estamos a falar do ouvido. O tacto de que
falamos é o tacto do ouvido.
– Sim, Mestre. Mas então, pior! Como tacteio
com o ouvido?
– Não será o que vens fazendo desde o
princípio deste texto?
– Talvez… Mas o que eu sinto é só que faço
esforço para construir o texto e que por isso a cabeça me está ficando
levemente dorida.
– A dor vê-se? Ouve-se?
– Não. A dor sente-se.
– Como se apreendem as coisas pelo tacto?
– Sentindo-as.
– Sente-Me. A Palavra que Eu sou é feita de
Carne e Sangue. Tem Corpo. É um Corpo!
A sensação é indescritível: ao mesmo
tempo que a leve dor de cabeça me desaparecia por completo, foi como se o Corpo
de Jesus se tivesse, devagarinho, metido no meu. Imagine-se um outro corpo, de
estatura sensivelmente igual ao nosso aproximando-se de nós, de lado, e que ao
tocar no nosso não pára, mas continua avançando para dentro até se configurar
inteiramente connosco! Eu disse que a sensação é indescritível: o que ficou
escrito nada revela, certamente, do que aconteceu. Devo acrescentar que era um
ardor gostoso o que eu sentia ao meter-se o Corpo de Jesus no meu.
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