“Deuteronómio cinco, treze” — assim ouço, como ouviria os números do totoloto, se estivesse preenchendo o respectivo boletim. Mas porque Deus não me deu outro meio de ouvir, eu creio neste como absolutamente seguro e fidedigno. Na verdade, se Deus não achasse esta via segura, teria escolhido para mim uma outra, uma vez que não posso duvidar de que Ele gosta muito de mim e de que por isso de modo nenhum recusará falar comigo se me vê aqui ajoelhado com as minhas capacidades todas abertas ao contacto com Ele. Esta é a minha Fé, de que está escrita uma coisa espantosa: mesmo pequenina como uma semente, ela tem em si a força necessária para arrasar uma montanha. Isto é, não há obstáculo que não vença, mesmo que esse obstáculo seja a absoluta surdez.
É justamente a surdez do mundo que Jesus quer vencer com esta Fé que me deu. Ninguém, a partir de agora, pode dizer que não tem meios para ouvir Deus. Sou assim dado como Testemunha aos homens que durante anos e anos se fecharam ao contacto com o Céu e por isso até a lembrança dele perderam: se, mesmo na sua absoluta surdez acreditarem que Deus os ama com louco Amor e quer falar com eles, nesse mesmo instante estarão ouvindo Deus. A Fé é o mais seguro ouvido! — diz o nosso Mestre Jesus.
É por isso que com toda a confiança eu vou abrir o Livro onde Ele me indicou. Está escrito assim em
Dt 5,13
“Trabalharás durante seis dias e neles farás todas as tuas obras”.
— Não atinjo ainda o que me queres comunicar com estas palavras, Mestre. Ajuda-me a chegar aos teus sentimentos quando quiseste trazer-me até aqui.
— Acreditas em que são mesmo aquelas palavras que te quero comunicar agora?
— Inteiramente. Poderiam elas até ser-me trazidas pelo Demónio: desde que a minha Fé as assumiu, elas tornam-se a Tua Mensagem perfeita para o momento em que me encontro.
— Ainda nada nelas te impressionou?
— Ainda não: vi apenas que elas vêm no contexto da observância do Sábado como dia de descanso; aqui, no sétimo dia, ninguém deveria trabalhar, nem os escravos.
— E em que contexto vem a observância do Sábado?
— No contexto dos Dez Mandamentos. A observância do Sábado é um deles.
— Portanto o Mandamento não é trabalhar os outros seis dias da semana!?
— Não: o Mandamento diz apenas que se aproveitem esses seis dias para fazer tudo quanto houver a fazer, a fim de no Sábado se poder descansar.
— Não há, portanto, nenhum Mandamento que mande trabalhar!?
— Não. Mas certamente é pressuposta a necessidade de trabalhar…
— Sei que estás a pensar numa passagem da Bíblia…
— Sim, naquela onde está escrito “Comerás o pão com o suor do teu rosto”.
— E isso não é um Mandamento?
— De modo nenhum! Isto é o Anátema das Origens.
— Como entendes “anátema”?
— Como a consequência trágica do Pecado.
— O trabalho não seria necessário, se não fosse o Pecado?
— Não: o Paraíso teria sempre alimento abundante à disposição do homem, sem que ele precisasse de despender uma gota do seu suor para o conseguir.
— Se, portanto, o Pecado for removido, aquele Anátema deixará de ter razão de ser!?
— Assim entendo.
— Mas também os Dez Mandamentos deixariam de ser necessários, não?
— Os Dez Mandamentos apenas desdobram o Mandamento do Amor. E esse permanecerá para sempre.
— E o Anátema do trabalho desaparecerá para sempre?
— Sim, quando o Pecado tiver desaparecido da face da terra.
— Diz-Me: se Eu vim tirar o Pecado do mundo, não vim libertar, na mesma proporção, da necessidade de trabalhar?
— Vieste, certamente. Doutra sorte a Tua Redenção não seria eficaz.
— Os meus discípulos deverão deixar de trabalhar?
— Certamente que não, enquanto a Cidade se mantiver de pé.
— Mas deverão dar a Deus o que é de Deus!?
— É claro, Mestre.
— O tempo não é de Deus?
— É. O tempo é justamente a Dádiva que oferecestes ao homem, para que ele pudesse “cultivar e guardar” o Éden e, depois do Pecado, para que ele pudesse regressar ao Paraíso e, ultrapassando-o, pudesse entrar na dimensão da Eternidade como Filho de Deus!
— Deverão os homens, então, já neste mundo, dar a Deus todo o tempo!?
— Sim, todo quanto a Cidade não puder exigir por estrita recompensa pelo pão que, embora roubado, nos dá.
— Que gostarias então de propor à Igreja?
— Que, além do Sábado e do Oitavo Dia, desse também a Deus, integralmente, o Nono Dia, cujo esplendor se vai ver em breve.
São 5:07!
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