– Está muito realçada a Luz naqueles algarismos, Maria…
– E a Paz. Tudo, portanto, aponta uma Harmonia sem mancha! É este o teu estado de Alma?
– Nem sei… O que me domina é uma expectativa tensa…
– E na harmonia não há tensão?
– A ideia que temos de uma harmonia perfeita aponta, de facto, para aí, para um estado de relaxamento em que todas as tensões se atenuam, ou mesmo desaparecem.
– Seria então isso o Paraíso!?
– Sim. Por isso muitos dizem que a vida no Céu deve ser uma seca.
– Mas já não é essa a tua visão das coisas, pois não?
– Já não. Mas também não vejo no Paraíso nem vestígio da correria e do estrondo da nossa Civilização.
– Nem conflito? Nem luta?
– Enquanto não chegarmos à Consumação dos Séculos, eu vejo o Paraíso também inundado da tensão da luta.
– Também? Há outras?
– Vejo a Harmonia habitada por tensões permanentes e variadíssimas…
– Estiveste para escrever tensões violentas…
– Ia-me fugindo para aí a caneta, sim.
– E não corresponderia à Verdade, se ficasse escrito assim?
– A caneta fugia-me para aí com muita força… Eu não consigo, de facto, ver no Paraíso – ou no Céu, se quisermos – nada que não esteja em permanente tensão, desde a mais suave até à mais violenta.
– Existe então uma violência harmoniosa – ou uma harmonia violenta!?
– Até ao arrebatamento – até ao êxtase!
– Mas nunca até à dor!?
– Já não sei… No cume do prazer parece surgir uma dor misturada…
– Uma dor boa?
– Sim, a dor de nos estarem sendo forçados os limites…
– Depois dessa dor do auge, o que acontece no corpo da Harmonia? Volta tudo ao lugar onde estava?
– Não! Os nossos limites alargam-se e dentro de nós tudo se refaz, com novo vigor, porque é preciso preencher os novos limites.
– Está então a Harmonia sempre em expansão!?
– Sim, em todas as direcções.
– Provocando novos picos de prazer violento até à dor!?
– Pois… Que sei eu? Só sei que seremos felizes.
– Olha: é um prazer desses, violento até à dor, que esperas do encontro com o teu professor de Sagrada Escritura?
– A longo prazo, sim, uma enorme Vaga de violência criadora; por agora há só a tensão da espera, que também tem prazer e dor misturados…
São 9:10!
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