- Maria, aqui de novo no lugar da Tua predilecção, desta vez mais perto das casas onde nasceram e viveram os Teus pequeninos pastores, sinto-me também eu muito pequenino no meio do acontecimento que é toda a vida ou toda a morte que me rodeia.
– Ena! Se largo és, mais largo pareces estar hoje. Que se passa?
- Nada de especial; só o sentir assim que nada controlo, que tudo é feito de acontecimento puro, mesmo aquilo que destrói e mata… Estou imerso num mar feito todo de milhentos movimentos de que não vejo as causas, nem as finalidades e…e tudo se move sem mim, tudo simplesmente me acontece e me condiciona… Também eu vago neste mar, às vezes olhando apenas, outras vezes, a maior parte delas, atirado aos baldões no meio da agitação universal…
- Que coisa! Que paisagem mais estranha estás partilhando Comigo hoje!… podes dar algum exemplo que nos situe nesse mar?
- Ontem nada escrevi porque dormi a noite inteirinha até mesmo à hora de levantar, e hoje dormi só à volta de três horas, povoadas de sonhos maus… O vento uiva na janela, o frio parece-me entranhado nos ossos e não consigo dormir.
– Pois, sendo assim, não mandas mesmo em nada. Nem sequer podes cortar a rotina deste encontro com uma intervenção das tuas…
– É verdade! Desta vez é um retiro à antiga, em que só há conferências e tempos para meditar, para além das orações ritualizadas.
– E tu nem meditar consegues…
– E não achas estranho? A meditação não deveria ser a minha especialidade?
– Diz-Mo tu. Porque é que não meditas?
– Não sei. Talvez porque são tempos de meditação impostos, talvez porque os temas pouco tenham a ver com a minha situação interior, simplesmente porque já estou de pé atrás contra estes encontros, em que se debita muita moral, muita doutrina, enfim, sempre mais do mesmo.
– Do teu posto de sentinela não viste nenhuma presunção em ti? Nenhuma falta de consideração para com as pessoas que dispuseram as coisas assim?
– Aliciei alguns companheiros para irmos ver um jogo de futebol num café lá fora… É a isto que te referes?
– Enfim, és um desordeiro. Futebol num retiro!…
– Não pareces muito preocupada… Sinto-Te até devertida!…
– Divertida?
– Acho que gostas de mim assim: achas piada.
– Aquilo de teres sempre um preconceito formado acerca destes encontros não é presunção?
– É? Vês aqui falta de humildade? Eu às conferências vou e porto-me bem… Tanto, que até adormeço, não raras vezes, como aconteceu ontem… Mais depressa falto às orações ritualizadas.
– E não te consideras mais nem melhor que os outros?
– Mais do que as outras pessoas acho que não. Mas de que aquilo que eu estou vendo é melhor do que aquilo que ouço debitar naquelas conferências não posso duvidar.
– Olha: que te dizem os teus Sinais?
– Que sou Testemunha da Luz.
– E mesmo assim aos baldões naquele tal mar, não sentes que a tua Luz se apagou?
– Se Te vejo assim bem disposta, não.
São 7:23!66
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