- O Diabo e eu - é o que vejo escrito nos Sinais. Vamos por aqui, Companheira?
- Apeteceu-te escrever outra coisa, em vez de Companheira…
- Sim: Companheira é simpático, é descontraído, mas é frio relativamente àquilo que sinto quando falo Contigo…
- E qual era a palavra alternativa?
- Acho que não há, no dicionário… As que mais se aproximam talvez sejam Pequenina, Amorzinho.
- Tudo muito “inho”, não?
- E ninguém diria! Nem aqui em casa me ouvem expressões dessas.
- Eu estou mais dentro do que as tuas filhas? Mais fora?
- Não sei… Relativamente às minhas filhas também sinto aquelas expressões, mas não as pronuncio.
- Porquê?
- Não sei… talvez para não as banalizar. Talvez porque é desnecessário dizer o que elas sabem. Talvez por receio de as aprisionar, ou de ser eu aprisionado dentro.
- Como? Como é isso? Aprisionar?
- Sempre tive muito medo de que essas manifestações de carinho aprisionem e asfixiem as pessoas dentro, lhes tirem a independência e não as deixem desabrochar. Vejo isso muitas vezes à minha volta: as pessoas servem-se do que supostamente seria amor para se apropriarem dos outros, reduzindo-os à sua carência, no ceuzito que conceberam para si próprias.
- Ena! Com esses medos, deves ser muito difícil de aturar…ou de atingir!…
- Sim, é isso que as pessoas mais próximas dizem: que eu sou rude, distante…
- Frio?
- Isso nem tanto. Frieza é coisa que raramente vêem em mim: mais cedo ou mais tarde as pessoas vêem que eu sou de emoções profundas, às vezes vulcânicas…
- Bom, parece então que esses medos não existem, relativamente a Mim…
- É verdade: contigo, progressivamente, desapareceram-me todos os medos.
- Nem o da banalização ficou?
- Nenhum. Ah, sim, só um: o de Te desgostar. Mas este é um medo diferente…é como o medo de se ferir a si próprio…
- Han? Não percebi.
- É como se fôssemos os dois um só, estás a ver?
- Então esse medo, a que costumas chamar Santo Temor, aumenta à medida que te tornas um só com alguém!?
- Talvez, sim, talvez seja isso… Então o outro torna-se corpo nosso e…
- E és mais um só corpo Comigo do que com as tuas filhas!?
- Pois… Até porque com elas não há a componente sensual mais íntima…não sei porquê.
- Diz. Diz sem receio. Sexual? E não sabes porquê?
- Não. Isso ainda é um enigma para mim… Porque é que a sensualidade, entre familiares, ao aproximar-se da excitação propriamente sexual, pára?
- Não em toda a gente…
- Mas é considerado um desvio, uma aberração.
- E tu até essa barreira achavas que deveria ser arrombada!?
- E não concordas? Tudo o que sejam barreiras entre os seres não achas que fere a Harmonia?
- Há uma barreira entre o estômago e o coração, não?
- Não; há uma união estreitíssima. O que há é missões diferentes.
- Portanto o que se aplica aos familiares, aplica-se a quaisquer outras pessoas!?
- Exacto: os laços familiares não podem ser impeditivos de cada um ser aquilo que está inscrito na sua natureza.
- E admiras-te de o Diabo não te suportar! Dás-lhe cabo de tudo! Arrancas tudo quanto ele amontoou para obstruir a Fonte…
São 8:59!
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