28/1/96 – 3:10
Já são 3:40. Estou parado há meia hora, sem um único movimento no coração. Que posso eu assim exprimir, a não ser esta mesma sensação de vazio? A solução será encher todo este espaço de Deus: Ele é todo o Ser e o único Amor que me seduz. Mas como se faz isso? Rezando, é claro. Mas rezando o quê, se a própria oração é Ele também, se rezar é puro Dom Seu?
Deus está sempre ao alcance da mão. Mas não vem nunca, se a mão se não mover na Sua direcção. Basta, pois, que o nosso Livre Arbítrio – também ele um Dom de Deus, porventura o maior de todos! – comande este primeiro movimento da nossa mão, por imperceptível que seja: Deus capta-o e alvoroçado lhe responde. Está assim desencadeada a torrente que a partir de dentro, como seiva, dará força à própria mão que pede e agarra Deus. Mas uma voz impertinente continua provocando-me cá dentro: Ah sim? Olha o relógio. E eu olho. São precisamente agora 4:40: uma hora inteirinha levei eu a redigir meia página! E a voz rindo, sarcástica, vitoriosa: Que torrente é esta que tal secura dá? E ri-se, ri-se muito esta voz. E eu nem sequer tenho energia para lhe ficar com raiva, para lhe chamar estúpida, para lhe perguntar se não sabe que Deus é Prazer e que não há prazer maior que um cantil cheiinho de água refrescando-nos a garganta e as entranhas depois de nos termos perdido no Deserto!
Mas eu conheço esta voz: é a voz do manhoso fabricante de todos os desertos, especializado em desviar para lá todos os desprevenidos. Por isso vou atrás da Voz que ouvi logo desde o início quando a minha garganta se queixou ao Senhor de que tinha sede: “Salmo sessenta e seis”! Ora 66 traz a marca da voz manhosa que ronda no deserto. Com mais um 6, daria o seu exacto número, porque esta voz que sempre nos afasta das zonas verdes é a conhecida voz da Besta, cujo número é 666. Ah, se houvesse o Salmo seiscentos e sessenta e seis! Creio que seria esse mesmo que aquela outra Voz me indicaria, para mais uma vez me inundar daquela Paz que eu já conheço, dizendo-me que não tenha medo, que também a Besta está às Suas Ordens e O serve com milimétrica precisão. Vou, pois, destacar o Salmo com que o meu Senhor hoje achou por bem alimentar-me:
Sl 66(65)
E a minha oração terminou assim: “Se eu planeasse a maldade no coração, o Senhor não me teria ouvido. Mas Deus ouviu-me, atendeu o clamor da minha súplica. Bendito seja o Senhor, que não rejeita a minha oração, nem retira de mim os Seus favores”!
São 5:27! Se 27 é o meu nome, Jesus está comigo, a dizer-me que este vazio não é ausência do Seu Amor, mas só uma forma de O robustecer em nós, conforme diz a oração que em mim Ele próprio está rezando ao Pai: “Sim, Tu nos provaste, ó Deus, acrisolaste-nos como se acrisola a prata” (v. 10), “passámos pelo fogo e pela água” (v. 12). Sim, é por este processo que Jesus consegue a rija têmpera dos Seus discípulos!
A voz manhosa, sarcástica, deixou de se rir, no Deserto….
São 5:41.
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